Os efeitos colaterais sobre o coração do tratamento do câncer com quimioterápicos se constituíram num dos temas importantes do 67º Congresso Brasileiro de Cardiologia, em Recife, que contou com a participação do diretor clínico do Incor de São Paulo, Roberto Kalil Filho, que é também diretor de Cardiologia do Hospital Sírio-Libanês.
Como editor da primeira Diretriz do mundo que analisou o aumento da insuficiência cardíaca e o aparecimento de doenças do coração nos pacientes de câncer tratados com alguns quimioterápicos, Kalil teve que responder a grande número de perguntas sobre essa nova fronteira do conhecimento, difundida a partir da publicação da Diretriz pela revista científica ‘Arquivos Brasileiros de Cardiologia’.
O presidente da SBC, Jadelson Andrade, que participou com Kalil e o diretor científico Luiz Alberto Mattos do ‘Simpósio Hospital da Bahia/Hospiral Sírio-Libanês’ sobre síndromes coronarianas agudas e novas fronteiras terapêuticas, explica que até recentemente o oncologista que precisava tratar de um paciente de câncer preocupava-se apenas em escolher a droga mais eficaz.
Acontece que em alguns hospitais brasileiros que atendem a pacientes de câncer e também cardíacos, em Salvador e São Paulo simultaneamente, cardiologistas começaram a registrar que grande número de pacientes infartados e com insuficiência cardíaca que informavam terem passado recentemente por tratamento quimioterápico.
Jadelson explica que, depois de verificar que aqueles tratados com determinados quimioterápicos é que apresentavam problemas cardíacos, reuniu pesquisadores, entre eles o cardiologista Fernando Bacal e o oncologista Paulo Hoff e, tendo Roberto Kalil como editor, ao longo de oito meses foi preparada a primeira diretriz específica sobre o tema do mundo inteiro, o que significa que mais uma vez a SBC foi pioneira num tema cardiológico.
O documento, que hoje se difunde até pelos países mais desenvolvidos, recomenda que todo tratamento com quimioterápico deve ser precedido de uma avaliação cardiológica, que todo paciente que vai entrar em quimioterapia seja necessariamente avaliado em seus fatores de risco cardíaco, isto é, se é fumante, obeso, hipertenso e, se necessário, que seja acompanhado por um cardiologista e finalmente que, iniciado o tratamento, seja feita uma avaliação para identificar precocemente qualquer efeito colateral sobre o coração.
O trabalho brasileiro foi tão importante, que um cardiologista do M. J. Anderson Hospital, instituição de excelência do Texas, para o tratamento do câncer,veio especialmente ao Brasil para conhecer a pesquisa brasileira e a partir de então a escolha do quimioterápico deixou de privilegiar apenas a eficácia contra o câncer, mas passou a levar em conta a agressividade e a toxicidade para o coração.
A conferência de Kalil sofre ‘Pesquisas em Cardioncologia: novas fronteiras’ lotou o auditório, onde não apenas cardiologistas experientes, mas também grande número de acadêmicos de Medicina se reuniram para ouvir a apresentação.
Kalil, que também falou sobre tomografia coronariana, insuficiência coronária e novos medicamentos, disse que considera vital o congresso anual da SBC como forma de difusão do conhecimento, numa das especialidades médicas que mais rapidamente evolui, como a Cardiologia. É a oportunidade principalmente para os novos cardiologistas, disse, para conhecer as novas pesquisas, as perspectivas da Cardiologia para o futuro e, da forma com o Congresso foi concebido, ele garante maior integração e ajuda na cadeia da informação, fornecendo ferramentas que influenciam diretamente o dia a dia do cardiologista no atendimento do paciente, que é o principal beneficiário de toda a evolução cardiológica que o mundo está vivendo.
Fonte: Assessoria de Imprensa - Sociedade Brasileira de Cardiologia