Autora: Dra. Glaucylara Reis.
Resumo: O Dr. Andre Lamy, da Universidade McMaster, em Ontário, no Canadá, apresentou os resultados de 1 ano de seguimento do estudo CORONARY, ensaio clínico que comparou as cirurgias de revascularização miocárdica (RM) com e sem circulação extra-corppórea (CEC). Neste estudo, não foram observadas diferenças significativas de eventos clínicos em pacientes randomizados para ambas as estratégias.
Introdução: A literatura ainda é incerta quanto a melhor técnica para o tratamento cirúrgico de pacientes com doença arterial coronariana, uma vez que, apesar da RM com CEC ter menor tempo cirúrgico e menores taxas de complicações relacionadas ao procedimento, quando comparada à RM com CEC, não são observadas diferenças em desfechos clínicos como morte ou reinfarto entre as duas estratégias. O estudo CORONARY é o maior ensaio clínico randomizado a fazer esta comparação e foi apresentado há um ano com os resultados neutros em 30 dias de seguimento. No entanto, se mantem as dúvidas quanto à manutenção desses resultados num seguimento mais longo.
Metodologia: Ensaio clínico randomizado que incluiu 4752 pacientes submetidos à RM em 79 centros de 19 países. Os pacientes foram randomizados para ser submetidos à cirurgia com ou sem CEC e avaliados quanto à ocorrência de eventos clínicos no seguimento de 1 ano. O desfecho primário do estudo foi o composto de morte, AVC, IAM e necessidade de diálise. Além disso, os indivíduos foram avaliados quanto à função neurocognitiva e da qualidade de vida através de escala visual.
Resultados: não houve diferença estatisticamente significativa quanto ao desfecho primário composto no seguimento de um ano (12,1% para o grupo com CEC vs. 13,3% para o sem CEC; OD: 0,91; IC 95% 0,77-1,07; p=0,24). As análises da função neurocognitiva e da qualidade de vida também foram semelhantes entre os dois grupos (p=0,24). Os testes para avaliação neuro-cognitiva também não mostraram diferença nos dois tempos de avaliação, ou seja, tanto na alta hospitalar quanto após um ano.
Conclusão: As duas técnicas estudadas (com CEC e sem CEC) não foram diferentes quanto ao desfecho primário composto para redução de eventos cardiovasculares, mesmo no seguimento de um ano. Pode-se concluir que ambas as técnicas são factíveis e seguras.
Perspectiva: tendo sido um estudo multicêntrico com recrutamento de um grande número de pacientes, os resultados neutros de desfechos clínicos entre as técnicas parecem deixar poucas dúvidas quanto à liberdade de escolha da melhor técnica cirúrgica para a RM. A cirurgia tradicional com CEC, apesar de maiores taxas de complicações cirúrgicas, permanece como recomendação clássica, por ser mais fácil tecnicamente. A cirurgia sem CEC é normalmente destinada aos pacientes mais graves, com disfunção renal ou outras comorbidades. No entanto, a experiência do cirurgiãoe a individualização do paciente e de sua situação clinica devem ser sempre avaliadas.
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