Autor: Dr. Bruno Paolino
Resumo: A Dra. Anna Toso, do Misericordia e Dolce Hospital, em Prato, na Itália, apresentou os resultados do estudo PRATO-ACS no congresso da American College of Cardiology de 2013, em São Francisco. Neste estudo, o uso da rosuvastatina precocemente e em altas doses foi significativamente melhor que o placebo para a prevenção de nefropatia induzida pelo contraste (NIC) em pacientes portadores de síndrome coronária aguda sem supradesnivelamento do segmento ST (SCASSST).
Introdução: Pacientes portadores de SCASSST são de alto risco para NIC e, com o aumento das indicações de estratificação invasiva e de tratamento percutâneo das, essa complicação é a cada dia mais frequente. Algumas medidas de prevenção renal, como a N-Acetlcisteína, foram testadas previamente sem sucesso. Devido ao componente inflamatório da NIC e a ação pleotrópica anti-inflamatória das estatinas, tem sido aventada a hipótese da ação nefroprotetora desta classe de drogas em pacientes submetidos à estratégia invasiva de estratificação e tratamento.
Objetivo: Avaliar a ação de doses altas de estatinas na prevenção de NIC em pacientes portadores de síndrome coronária aguda com indicação de estratificação ou tratamento percutâneo.
Metodologia: O estudo PRATO-ACS foi um ensaio clínico randomizado duplo-cego placebo controlado que incluiu 504 pacientes portadores de SCASSST indicados para a estratégia invasiva precoce e virgens de tratamento com estatinas. Os pacientes foram randomizados para receberem 40mg de rosuvastatina (grupo estatina) ou placebo (grupo controle) na admissão na unidade coronáriana. O desfecho primário do estudo foi a NIC, definida por um aumento de 25% ou de 0,5mg/dL dos níveis séricos de creatinina nas 72 horas após a intervenção percutânea. Uma análise de subgrupo foi realizada com pacientes considerados de alto risco para NIC. Eventos clínicos adversos – morte, diálise, IAM, AVC ou lesão renal permanente – foram avaliados em 30 dias.
Resultados: A taxa do desfecho primário foi significativamente menor no grupo estatina, quando comparado ao grupo controle (6,7 vs 15,1%, respectivamente; OR 0,38; IC 95% 0,20-0,71; p=0,003). Na análise de subgrupos de alto risco, a rosuvastatina foi mais eficaz que o grupo controle em pacientes com clearence de creatinina < 60 mL/min (OR 0,36; IC 95% 0,15-0,87; p=0,024), perfil clínico de alto risco (OR 0,44; IC 95% 0,23-0,86; p=0,017) e os submetidos à angioplastia (OR 0,41; IC 95% 0,19-0,89; p=0,024). A incedência de eventos clínicos adversos em 30 dias foi menor no grupo estatina (3,6% vs 7,9%; p=0,036).
Conclusão: A rosuvastatina em altas doses foi eficaz em prevenir a NIC em pacientes virgens de tratamento com SCASSST em estratégia invasiva precoce. Além disso, a rosuvastatina foi associada a menores taxas de complicações clínicas sérias associadas à intervenção percutânea.
Perspectivas: Neste estudo bem conduzido e com resultados inequívocos, a rosuvastatina em doses altas foi associada a menores taxas de NIC e melhores desfechos clínicos em pacientes com SCASSST tratados estratificados invasivamente. Os benefícios foram ainda maiores em pacientes com maior risco para NIC. Os resultados são pertinentes com a fisiopatologia da SCA e da NIC, onde a inflamação tem papel relevante, e com os mecanismo de ação ligado às propriedades anti-inflamatórias das estatinas e com a rosuvastatina em particular. As tentativas frustradas de tratamento da NIC magnitude do benefício fazem com que o estudo tenha destaque entre os estudos da área.
Recomendadas independentemente dos valores de colesterolemia dentro de 1 a 3 dias da admissão com SCA pelas diretrizes atuais, as estatinas tem a recomendação antecipada para o mais rápido possível. Resta saber se o benefício pode ser extendido às outras estatinas e se doses menores também podem ser utilizadas. O estudo PRATO-ACS abre uma nova área para ensaios clínicos randomizados.
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