Autora: Dra. Glaucylara Geovanini
Introdução: O tratamento do infarto agudo do miocárdio com
supradesnível do segmento ST (IAMCSST) deve ser feito de maneira rápida e a
melhor estratégia atualmente aceita é a angioplastia primária. No entanto, esta
estratégia requer laboratórios de hemodinâmica e corpo clínico experiente
disponíveis a uma curta distância do paciente, o que é inviável pelas
dificuldades de acesso. Neste sentido, a fibrinólise pré-hospitalar foi pensada
como a alternativa quando a angioplastia primária precoce não é disponível. Os
resultados associados a esta estratégia, no entanto, são controversos e a
estratégia precisa ser melhor avaliada.
Objetivos: Avaliar a eficácia da fibrinólise pré-hospitalar
associada à estratificação invasiva precoce, comparada à angioplastia primária,
em pacientes com IAMCSST
Métodos: Estudo prospectivo, randomizado, multicêntrico que
incluiu 1892 indivíduos com IAMCSST em até 3 horas do início dos sintomas e que
levariam mais de 1h para ter acesso à angioplastia primária. Esses pacientes
foram randomizados para terapia fibrinolítica com tenecteplase, AAS,
clopidogrel e enoxaparina antes do transporte a um hospital com serviço de hemodinamica
disponível para estratificação invasiva nas primeiras 24h (estratégia
fármaco-invasiva) ou incluídos no grupo controle, que consistiu em submeter os
pacientes à angioplastia primária, com tratamento antiplaquetário e
antitrombínico de acordo com a estratégia dos serviços médicos locais. Em caso
de falha na fibrinólise a angioplastia de urgência poderia ser requerida.
O desfecho primário foi o composto de morte, choque
cardiogênico, insuficiência cardíaca congestiva ou ré-infarto após 30 dias. Os
desfechos de segurança foi os sangramentos ocorridos durante a internação
hospitalar e em até 30 dias de IAM.
Resultados: O desfecho primário ocorreu em 12,4% dos pacientes no
grupo da estratégia fármaco-invasiva e 14,3% dos pacientes do grupo angioplastia
primária (RR=0,86; IC 95% 0,68-1,09; p= 0,21). Na estratégia fármaco-invasiva,
36,3 % dos pacientes necessitaram de angioplastia de urgência. Os pacientes do
grupo angioplastia primária tiveram um atraso de 78 minutos, em média, para a
reperfusão do vaso afetado, em relação aos pacientes do grupo fármaco-invasivo
(110 vs 178min, p<0,001).
Foi observada uma maior taxa de hemorragia cerebral foi
encontrada no grupo da estratégia fármaco-invasiva, quando comparada ao grupo
da angioplastia (1,0% vs 0,2%, p= 0,04), principalmente em pacientes idosos.
Por causa dessas taxas proibitivas de sangramento intracraniano, após 17 meses
do início da inclusão, foi decidido por reduzir à metade a dose da tenecteplase
para os pacientes acima de 75 anos e, após esta mudança, não houve mais
diferença estatística de hemorragia intra-craniana entre os dois grupos. Os
índices de complicações hemorrágicas não cerebrais foram semelhantes nos dois
grupos (6,5% no grupo da fibrinólise vs 4.8% na angioplastia primária, p=
0,11).
Conclusão: A estratégia fármaco-invasiva é uma alternativa
eficaz aos pacientes com IAM que não teriam acesso à angioplastia primária de
maneira rápida. A estratégia, no entanto, deve ser adequada ao grupo de
pacientes idosos, por causa do risco de sangramentos graves.
Perspectivas: O estudo STREAM demonstrou que a estratégia
fármaco-invasiva pode ser tão eficaz quanto a angioplastia primária quando não
há condições de ter esta disponível rapidamente. Este cenário é extremamente
comum em todo o mundo, dado ao alto custo de manutenção de serviços de hemodinâmica
24h, e particularmente no Brasil, devido às grandes distâncias e aos problemas de
tráfego nas grandes cidades. A tratamento pré-hospitalar do IAMCSST já foi
tentado em outros estudos, como a angioplastia facilitada ou as comparações
entre fibrinólise e angioplastia primária. O que o estudo difere destas
estratégias é o uso do tenecteplase – sabidamente mis eficaz e de administração
em apenas um bolus – e a estratificação invasiva em até 24h para todos os
pacientes e não mais apenas para os que mantinham sinais ou sintomas. Esta nova
estratégia, que teve efetiva participação brasileira, capitaneada pelo Dr.
Antonio Carlos Carvalho, pode diminuir bastante as complicações decorrentes do
atraso do tratamento do IAMCSST e os custos associados à cardiopatia isquêmica
tanto no Brasil.
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