Autor: Dr. Antonio Bacelar
A estenose aórtica é a valvopatia mais comum. A sua prevalência é crescente com o envelhecimento
da população e atinge, aproximadamente, 4,5% dos pacientes acima de 75 anos. A
estenose aórtica é uma doença de evolução insidiosa inicialmente. A partir do
surgimento de sintomas, no entanto, apresenta mortalidade de 25% ao ano.
O Dr. David Adams, chefe da cirurgia cardiotorácica do
hospital Mount Sinai em Nova Iorque, apresentou no congresso do American College
of Cardiology 2014 os resultados do estudo randomizado CoreValve-US High Risk
que comparou o implante de bioprótese aórtica por cateter (TAVI) utilizando um
dispositivo auto-expansível (CoreValve®) com a cirurgia de troca valvar
aórtica.
O estudo incluiu 795 pacientes com estenose aórtica
importante sintomática com alto risco cirúrgico (mortalidade > 15% em 30
dias estimada por um Heart Team composto por 2 cirurgiões cardíacos e um
hemodinamicista, utilizando o escore STS e outras variáveis de risco consideradas
importantes e não incluídas no escore, como síndrome da fragilidade do idoso).
Os pacientes foram randomizados em dois grupos na razão 1:1 para TAVI ou
cirurgia de troca valvar. A meta primária do estudo foi mortalidade por todas
as causas em 1 ano. Foram realizadas análises de não-inferioridade e
superioridade, assim como análise por intenção de tratamento (intention to treat) e de acordo com a terapia
efetivamente recebida (as treated).
A média etária da população foi de, aproximadamente, 83 anos,
com 53% do sexo masculino. O STS e EuroSCORE médio foram de 7,5% e 18%,
respectivamente. Ao final de 1 ano de
seguimento, a mortalidade por todas as causas foi significativamente menor no
grupo TAVI comparado à cirurgia (14,2% vs. 19,1%; p<0,001 para
não-inferioridade e p=0,04 para superioridade, respectivamente). As taxas de
complicações cardiovasculares maiores em 1 ano também foram significativamente
menores no grupo TAVI (20,4% vs. 27,3%, p=0,03). A incidência de acidente
vascular cerebral em 30 dias foi de 4,9% no grupo TAVI vs. 6,2% no grupo cirurgia (p=0,46) e 8,8% no grupo TAVI e 12,6% no
grupo cirurgia (p=0,10) após 1 ano.
Nos pacientes com estenose aórtica importante de alto risco
cirúrgico, o implante de bioprótese aórtica por cateter utilizando prótese
auto-expansível foi associado à menor mortalidade em 1 ano de acompanhamento.
O implante de bioprótese aórtica por cateter utilizando
prótese balão-expansível (SAPIEN®) é considerado a terapia padrão ouro
para pacientes com estenose aórtica importante e risco cirúrgico muito alto (mortalidade
estimada > 50% em 30 dias) e uma alternativa atraente para os pacientes com
alto risco cirúrgico. A CoreValve foi recentemente aprovada pelo FDA para a
utilização em pacientes em pacientes com risco cirúrgico muito alto baseado
nos excelentes resultados do estudo
CoreValve-US extreme risk apresentado no TCT.13. Provavelmente veremos a
expansão da indicação dessa prótese pelo FDA após a publicação desse estudo.
Apesar de todas as limitações e cautelas que devemos ter ao
fazermos a comparação entre estudos, é inevitável comparar esses resultados aos
do estudo PARTNER coorte A. No presente estudo, a mortalidade foi
significativamente menor no grupo TAVI, enquanto no PARTNER, a mortalidade foi
semelhante entre os grupos (TAVI e cirurgia convencional). A taxa de AVC no
grupo TAVI foi maior em relação à cirurgia no estudo PARTNER, enquanto não
houve diferença estatisticamente significativa na presente análise. Essas
diferenças podem ser explicadas em parte, pela menor gravidade dos pacientes
incluídos nesse estudo (STS 7,5% vs.
11,8%, no CoreValve e Partner, respectivamente). De fato, a maior parte dos
pacientes do estudo apresentavam escore STS entre 4 e 10% (aproximadamente
70%). Isto gera um certo questionamento quanto a real gravidade desses
pacientes. Estamos diante de uma população com alto risco cirúrgico ou risco
cirúrgico intermediário?
Devemos ressaltar que essa nova tecnologia deve ser restrita
a pacientes idosos com alto risco ou risco cirúrgico muito elevado. Estudos
randomizados comparando TAVI com cirurgia em populações de risco cirúrgico
intermediário estão em andamento (SURTAVI e PARTNER II).
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