Autor: Bruno de Souza
Paolino
Roberto Rocha Giraldez
A fosfolipase A2
associada à lipoproteína (Lp-PLA2) é um mediador inflamatório relacionado
ao desenvolvimento e à instabilização das placas ateroscleróticas. A Lp-PLA2
é sintetizada por leucócitos circulantes e transportada até a íntima vascular
ligada a uma partícula de LDL-c ou produzida diretamente por células
inflamatórias, como os macrófagos, na placa aterosclerótica. No interior do
ateroma, a Lp-PLA2 produz inflamação sustentada e expansão do núcleo
necrótico. A sua detecção no core lipídico de uma placa é um marcador de
vulnerabilidade e risco de instabilização. Uma metanálise envolvendo 79.036 participantes
de 32 estudos prospectivos mostrou que a concentração sérica de Lp-PLA2
correlaciona-se de forma independente com o risco coronário. O darapladibe é um
inibidor oral da Lp-PLA2 que reduz seus níveis em, aproximadamente,
60%. Estudos experimentais demonstram redução da Lp-PLA2 em placas
ateroscleróticas de porcos. Estudos em humanos indicam redução da atividade da
Lp-PLA2 em placas de carótidas e interrupção da progressão de
ateromas coronários com darapladibe.
O estudo STABILITY randomizou
pacientes com doença arterial coronária crônica (infarto há mais de 1 mês,
revascularização coronária prévia ou doença multivascular) para tratamento com
darapladibe 160mg em dose única diária ou placebo. O estudo procurou selecionar
pacientes com critérios de alto risco vascular como idade ≥ 60 anos, presença
de diabetes ou HDL-c reduzido, tabagismo, disfunção renal significativa ou
doença polivascular. O desfecho primário foi composto por morte cardiovascular,
infarto do miocárdio (IM) ou AVC. Diversas metas secundárias, principalmente
envolvendo eventos coronários, foram igualmente avaliadas.
O ensaio clínico STABILITY
incluiu 15.828 pacientes com seguimento médio de 3,7 anos. A conclusão do
estudo foi condicionada à ocorrência de 1.588 eventos. Os pacientes incluídos
no estudo tinham, em média, 65 anos (14% ≥ 75 anos) e eram, predominantemente,
homens brancos. A população demonstrava características de alto risco com 75%
dos pacientes submetidos a revascularização miocárdica prévia (50% de
intervenção percutânea e 33% de cirurgia cardíaca) e 34% e 30% deles com
diabetes e doença renal, respectivamente. Todos receberam tratamento clínico ideal,
como se pode verificar pelo uso generalizado de AAS (92%) e estatinas (97%),
alcançando-se um LDL-c mediano de 80mg/dL. A aderência ao tratamento acima de
90% foi considerada excelente em ambos os grupos.
O estudo STABILITY não
mostrou diferença entre os grupos em relação à meta primária morte
cardiovascular, IM ou AVC (819 e 769 eventos nos grupos placebo e darapladibe ,
respectivamente; HR 0,94; IC95% 0,85 - 1,03). Também não foram detectadas
diferenças significativas em subgrupos pré-especificados, exceto por tabagistas
que parecem ter se beneficiado do uso da medicação (Pint = 0,044). Ao contrário, quando foram analisados os desfechos
coronários, uma diferença limítrofe foi observada em favor do darapladibe. A
ocorrência de morte coronária, IM ou revascularização de urgência foi menos
freqüente com darapladibe ( HR 0,90; IC95% 0,82 - 1,00; P = 0,045), assim como
a incidência de morte coronária, IM, revascularização coronária de qualquer
tipo ou hospitalização por angina instável (HR 0,91; IC95% 0,84 - 0.98; P =
0,019). Analisados individualmente, os desfechos coronários têm comportamento
consistente em favor do uso do darapladibe. O darapladibe aumentou
numericamente a ocorrência de efeitos colaterais como diarréia, porém, sem
atingir significância estatística. Nenhum evento adverso sério foi identificado
com a medicação.
Em conclusão, o darapladibe
não reduziu de forma significativa a ocorrência de morte cardiovascular, IM ou
AVC em portadores de doença arterial coronária crônica em um seguimento de 3,7
anos. A medicação, no entanto, reduziu significativamente metas secundárias
coronárias pré-especificadas, sugerindo que possa haver um efeito benéfico mais
localizado. É fundamental que subanálises do estudo SIMIPLICITY seja
realizadas, principalmente, relacionando os níveis de Lp-PLA2 ao
efeito da medicação. Além disso, novos estudos devem ser desenvolvidos para
avaliar uma nova classe de medicamento cujo mecanismo de ação parece ser
bastante promissor.
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