Autor: Prof. Dr. Roberto Rocha Giraldez
Os receptores PPAR a e g,
presentes na superfície celular, despertaram grande interesse científico
recentemente porque sua ativação ajuda a regular o metabolismo lipídico e
glicêmico, respectivamente. A ação agonista sobre o receptor a presente no fígado, coração, músculos e vasos
sangüíneos produz aumento da captação celular de ácidos graxos, reduzindo a
concentração sérica de triglicérides e aumentando os níveis de HDL-c. A
ativação do receptor PPAR g,
por sua vez, aumenta a sensibilidade das células musculares e adipócitos à insulina,
reduzindo a glicemia e inflamação sistêmica. Ativadores dos receptores PPAR g, como a pioglitazona, demonstraram reduzir a
incidência de morte, infarto do miocárdio ou AVC em diabéticos, além do
interromperem a progressão das placas ateroscleróticas.
O aleglitazar é um agente com ação simultânea sobre
ambos os receptores PPAR a
e g. Estudos que avaliaram
o metabolismo em pacientes tratados com aleglitazar demonstraram redução de
cerca de 50% da HbA1c e 30% dos triglicérides com elevação de 25% da concentração
de HDL-c.
O estudo AleCardio avaliou o impacto da adição de
aleglitazar ao tratamento padrão sobre a morbidade e mortalidade de portadores
de diabetes tipo 2 e síndrome coronária aguda recente. O AleCardio foi um
estudo randomizado, duplo-cego e controlado por placebo desenhado para
demonstrar a superioridade do aleglitazar sobre o placebo. O desfecho primário de eficácia do estudo foi
mortalidade cardiovascular, infarto do miocárdio não-fatal ou AVC não-fatal.
Diversas metas secundárias de eficácia e segurança (hospitalização por
insuficiência cardíaca, função renal e fraturas ósseas, entre outras) também
foram analisadas, além de metas metabólicas (controle glicêmico e variação de
níveis lipídicos). O estudo foi programado para incluir cerca de 6.000
pacientes para receberem aleatoriamente 150mg de aleglitazar pela manhã ou placebo. O término do estudo foi dirigido pela
ocorrência de eventos adversos. Para tanto, foi admitida a ocorrência de 950
eventos da meta primária em um seguimento de 2,5 anos. Durante o
desenvolvimento do estudo, no entanto, a incidência de eventos da meta primária
foi mais baixa que a esperada, optando-se pela inclusão de 7.000 pacientes. O
redução estimada de eventos primários foi de 20% com aleglitazar.
Ao final do estudo foram incluídos 7.226 pacientes.
Aproximadamente, 90% deles já tinham diagnóstico de diabetes e 40% apresentavam
infarto do miocárdio com supradesnível do segmento ST. Ao longo do estudo,
identificou-se incidência mais elevada de eventos adversos específicos,
programando-se uma análise intermediária não especificada. Durante a avaliação,
o comitê de segurança optou pela interrupção do estudo por impossibilidade de
se modificar o resultado. final (futilidade). Assim, foram adjudicados 704
eventos da meta primária.
O uso de aleglitazar associou-se a uma modificação
metabólica altamente favorável com redução média de 0,60% (P<0,001) e 34,9%
(P<0,001), em relação ao placebo, das concentrações de HbA1c e de
triglicérides. Em relação ao controle, a concentração sérica de HDL-c no grupo aleglitazar
elevou-se em 18,6%. Somente o LDL-c elevou-se em 3,7% com aleglitazar. Em
relação aos desfechos clínicos primários, não houve qualquer diferença entre os
grupos aleglitazar e placebo (HR 0,96; IC95% 0,83 - 1,11). Similarmente, todos
os desfechos clínicos secundários de eficácia não mostraram diferenças, exceto
pelas hospitalizações por angina instável e revascularizações não
planejadas que foram menos comuns com
aleglitazar. Em relação aos efeitos adversos, ganho de peso e piora da função
renal foram significativamente mais comuns com aleglitazar, assim como
hemorragia digestiva.
Em conclusão, em portadores de diabetes e
coronariopatia aguda recente, o aleglitazar reduziu a HbA1c e alterou
favoravelmente as taxas de triglicérides e HDL-c. A despeito disso a medicação
não reduziu desfechos clínicos trombóticos, mas, ao contrário, aumentou as
taxas de eventos adversos, como hemorragia digestiva e edema com ganho de peso.
Assim, esse resultados não dão suporte ao uso dessa medicação na prevenção do
risco cardiovascular.
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