Autor: Dr. Bruno
Paolino.
A dor torácica é
uma das queixas mais comuns nas unidades de emergência, sendo responsável por
15 e 20 milhões de admissões na unidade de emergência na Europe e nos Estados
Unidos todos os anos. No entanto, apenas entre 10 e 20% dos pacientes com dor
torácica são diagnosticados com infarto agudo do miocárdio (IAM), mas a
necessidade de descartar a doença com a maior segurança possível gera grande gasto
de recursos e aos sistemas de saúde do mundo inteiro, além de muitas admissões
desnecessárias no hospital. O principal entrave para isso é que as principais
armas para o diagnóstico não tem a sensibilidade suficiente – caso do
eletrocardiograma (ECG) – ou precocidade necessária – caso da troponina I ou T
– para descartar a doença assim que o paciente é admitido na unidade de emergência.
A troponina de
alta sensibilidade, ou troponina ultrassensível, é uma medição recentemente
incorporada à prática clínica que tem a capacidade de detectar elevações
mínimas desse marcador e, principalmente, de maneira bem mais precoce que os ensaios
tradicionais, provavelmente já na admissão do paciente na sala de emergência.
Por este motivo, a Dra. Nadia Bandstein e seus colaboradores, do instituto Karolinska, de Estocolmo, na Suécia,
testou o valor preditivo negativo da troponina ultrassensível em pacientes com
dor torácica e ECG sem alterações isquêmicas agudas, independente do risco
prévia de doença coronariana prévia ou tempo de dor, com o objetivo de avaliar
a segurança do método em descartar IAM precocemente na sala de emergência.
Para atingir o
objetivo, os pesquisadores fizeram um estudo de coorte retrospectivo com todos
os pacientes acima de 25 anos que foram admitidos na unidade de emergência do
hospital com a queixa principal de dor torácica, ECG sem sinais agudos de
isquemia e, pelo menos, uma dosagem de troponina ultrassensível. Esses
pacientes foram seguidos por 30 dias e o desfecho principal do estudo foi a
taxa de infarto ou morte. Foram analisados como desfechos secundários IAM em
180 e 365 dias e morte aos 30, 160 e 365 dias. O estudo foi realizado entre
dezembro de 2010 e dezembro de 2012.
No total, 14 636
paciente foram admitidos no período do estudo e, destes, 61% (8907 indivíduos)
tiveram troponina ultrassensível indetectável (<5ng/L) e ECG sem alterações
isquêmicas, dos quais 21% foram internados e 79% foram liberados da emergência.
Ao final de 30 dias, 15 pacientes (0,18%) tiveram o diagnóstico de IAM e não
houve qualquer morte. Ao final de 365 dias, houve 54 casos de IAM e 38 mortes,
sendo somente 2 por causas cardiovasculares. O valor preditivo negativo da
estratégia foi de 99,8% para IAM e de 100% para morte em 30 dias. Entre os 15
pacientes que evoluíram com IAM, 11 (73%) colheram o sangue para a análise da
troponina ultrassensível com até 2h do início dos sintomas, 2 (13%) entre 2 e
3h e 2 (13%) após 3h do início dos sintomas.
Portanto, a
troponina de alta sensibilidade e o ECG formam uma excelente estratégia, com
altíssimo valor preditivo negativo, para descartar o IAM em pacientes com dor
torácica na sala de emergência, independente dos fatores de risco para doença
cardiovascular e o tempo de início dos sintomas. Esta estratégia pode diminuir
de maneira significativa o tempo de estadia dos pacientes no departamento de
emergência e a taxa de internações desnecessárias, reduzindo, dessa forma, a
lotação das emergências e o custo do tratamento para os sistemas de saúde em
todo mundo.
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