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SCOT-HEART: O uso da angiografia por tomografia computadorizada na avaliação de pacientes com suspeita de doença arterial coronária reduz os desfechos cardiovasculares

O uso da angiotomografia de coronárias (ATC) em pacientes com dor torácica por suspeita de doença coronária pode ajudar o diagnóstico e influenciar a conduta e tratamento desses pacientes.

A abordagem de pacientes com suspeita de angina por doença arterial coronária é complexa. Apesar da identificação de pacientes de alto risco que podem se beneficiar de intervenções ser menos complexa, muitos pacientes ainda são mal diagnosticados. Aproximadamente, um terço dos pacientes que recebem o diagnóstico de dor torácica não cardíaca evoluem com morte cardiovascular ou apresentam evento coronário agudo num prazo de 5 anos. Assim, a estratificação de risco em pacientes com dor torácica e suspeita de doença arterial coronária precisa ser aperfeiçoada. A alta sensibilidade e especificidade ATC para a detecção de doença coronária pode auxiliar no diagnóstico desses pacientes. Por isso, o estudo SCOT-HEART foi desenvolvido com o objetivo de avaliar o impacto da ATC no diagnóstico, tratamento, e evolução de pacientes com suspeita de doença coronária.

A população incluída no estudo consistiu de pacientes com suspeita de angina estável por doença coronária. Todos os pacientes foram incluídos, exceto por portadores de insuficiência renal e doença coronária aguda recente. Pacientes com dificuldade técnica para a realização de ATC como obesos, portadores de alto escore de cálcio e de fibrilação atrial também foram randomizados. Os pacientes foram avaliados clinica e laboratorialmente, inclusive com teste ergométrico, antes de sua inclusão. A partir dessa avaliação foram estratificados por seus clínicos para a probabilidade do diagnóstico de dor torácica secundária à coronariopatia. Depois de randomizados para a realização de ATC ou tratamento padrão, os pacientes foram re-estratificados no grupo ATC. O desfecho primário do estudo foi a proporção de pacientes com o diagnóstico de angina secundária à presença de doença coronária pela opinião do clínico responsável antes e depois da realização da ATC ou avaliação padrão (escala ASSIGN). Depois da re-estratificação, as mudanças de procedimentos de investigação e tratamento foram registradas.

Um total de 4.146 pacientes foram randomizados no estudo. A idade média da população foi de 57 anos e 56% eram do sexo masculino. Aproximadamente, 11% eram diabéticos, 53% portadores de dislipidemia e 34% hipertensos. Em relação aos antecedentes, 9% apresentavam doença arterial coronária e 3% doença cerebrovascular. Os sintomas não eram sugestivos de angina em 41% dos pacientes e o ECG normal em 84% deles. Cerca de 85% realizaram teste ergométrico e 9% cintilografia miocárdica antes da inclusão. Finalmente, a angina foi atribuída à presença de doença coronária em 36% dos pacientes antes da randomização. Depois do resultado da ATC, o estudo demonstrou um sensível aumento de certeza do diagnóstico de angina coronária (RR 1,79; IC95% 1,62-1,96; p<0,0001) sem no entanto, afetar a frequência do diagnóstico (RR 0,93; IC95% 0,85-1,102; p=0,1289). Assim, o diagnóstico de angina secundária a doença coronária mudou em 23% dos pacientes no grupo ATC e, apenas, 1% no grupo de tratamento padrão (P<0,001), ou seja, a ATC permitiu a reclassificação dos doentes.

A mudança do diagnóstico resultou em mudanças da investigação programada (15% vs. 1%; p<0,0001) com cancelamento de testes funcionais para isquemia e angiografias coronárias invasivas em alguns pacientes com suspeita de angina coronária pré-ATC, e, por outro lado, indicação de cinecoronariografia em pacientes sem programação prévia à ATC. A alteração diagnóstica promoveu mudanças no tratamento preventivo (18% vs. 4%, p<0,001), antianginoso (9% vs. 1%, p<0,0001). ATC não se associou a um aumento dos procedimentos de revascularização. A conduta de realizar ATC associou-se a uma redução não significativa de 38% nas taxas de morte por doença coronária e infarto do miocárdio não-fatal.
A taxa de complicações associada à realização de ATC foi baixa. Somente 1,7% tiveram alguma complicação, principalmente reação alérgica ao contraste. A dose de radiação média foi de 4,1mSv.

Em conclusão, a adição da ATC aos instrumentos diagnósticos empregados na avaliação da dor torácica estável com suspeita de doença coronária permite clarificar o diagnóstico em 25% dos pacientes, alterar a investigação em mais de 15% e o tratamento em 25%. Esses resultados parecem influenciar a evolução dos pacientes com redução das taxas de morte coronária e infarto.

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