Autor:
Antonio Bacelar
Revisor: Roberto Rocha Giraldez
O Dr.
Craig Smith da Universidade de Columbia nos EUA apresentou na sessão
de late breaking clinical trials do ACC 2016 o estudo PARTNER
2A (Placement of AoRTic traNscatheterER valves) que comparou a
eficácia e segurança do implante de valva aórtica por cateter
(TAVI) com a cirurgia tradicional em pacientes com estenose aórtica
importante e risco cirúrgico intermediário. Nesse estudo, TAVI foi
não-inferior à cirurgia em relação à mortalidade e incidência
de AVC.
O
estudo incluiu 2.032 pacientes sintomáticos com estenose aórtica
importante que foram randomizados para TAVI ou cirurgia de troca
valvar convencional. No grupo de pacientes submetidos à TAVI, 75%
realizaram o procedimento por via transfemoral e 25% por via
transtorácica (transapical ou transaórtica). No procedimento, foi
utilizada uma prótese de segunda geração, a Sapien XT. O PARTNER
2A foi um estudo de não-inferioridade cujo desfecho primário foi
morte por todas as causas e AVC incapacitante (escore de Rankin
2) em 2 anos. Risco cirúrgico intermediário foi definido por um STS
escore 4 determinado por um
Heart Team.
A
idade média foi de 81,5 anos e o STS escore de 5,8
2. Aproximadamente, 45% dos pacientes apresentavam síndrome da
fragilidade do idoso. A taxa de mortalidade e AVC em 2 anos foi
semelhante entre os dois grupos [19,3% no grupo TAVI vs. 21,1% no
grupo cirurgia; hazard ratio (HR) 0,89; IC95% 0,73-1,09; p=0,25). Na
análise de subgrupo pré-especificada da coorte transfemoral, a taxa
de morte e AVC foi menor no grupo TAVI comparada à cirurgia (16,8%
vs. 20,4%; HR 0,79; IC95% 0,62-1,0; p=0,05). Na coorte transtorácica,
entretanto, os resultados foram semelhantes.
Em
relação aos demais eventos adversos, a incidência de complicações
vasculares foi mais frequente no grupo intervenção (8,6% vs. 5,5%,
p<0.006), assim como a incidência de insuficiência aórtica
(p<0,001). Por outro lado, as complicações hemorrágicas (17,3%
vs. 47%, p<0.001), a ocorrência de fibrilação atrial (11,3% vs.
29,3%, p<0.001) e insuficiência renal aguda (3,8% vs. 6,2%,
p=0,02) foram mais comuns com a cirurgia de troca valvar aórtica. A
melhora da sintomatologia de insuficiência cardíaca foi mais rápida
naqueles que receberam TAVI, mas, após 2 anos do tratamento, ambos
os grupos apresentaram melhora clínica equivalente.
Em
conclusão, TAVI foi similar (não-inferior) à cirurgia de troca
valvar em relação à mortalidade e AVC em pacientes com risco
cirúrgico intermediário.
A prótese Sapien foi a empregada no estudo PARTNER, o primeiro
ensaio randomizado avaliando o implante de bioprótese aórtica por
cateter. Em sua coorte B, 358 pacientes foram randomizados para TAVI
ou para o manuseio conservador, incluindo a possibilidade de realizar
valvoplastia aórtica por balão. De forma inédita, demonstrou-se
redução absoluta de 20% da mortalidade com essa nova modalidade de
tratamento. Como ponto negativo, observou-se maior incidência de
acidente vascular cerebral e complicações vasculares aos 30 dias
no grupo tratado invasivamente.
Na
coorte A do estudo PARTNER, participaram 699 pacientes idosos com
estenose aórtica importante, que foram randomizados para TAVI ou
para tratamento cirúrgico convencional. Após 1 e 2 anos de
seguimento, a mortalidade nos dois grupos de tratamento foi
semelhante (1 ano: 24,2% vs. 26,8%; 2 anos: 33,9% vs. 35% nos grupos
TAVI e cirurgia, respectivamente), demonstrando-se a
não-inferioridade do novo tratamento em relação à abordagem
cirúrgica. Dessa forma, concluiu-se que o implante valvar aórtico
por cateter deve ser considerado como uma alternativa menos invasiva
ao tratamento cirúrgico, com mortalidade e benefícios clínicos
semelhantes.
Recentemente,
foram publicados dois estudos realizados nos Estados Unidos com a
prótese CoreValve visando a aprovação do dispositivo pelo Food
and Drugs Administration. O primeiro estudo, não randomizado,
incluiu 506 pacientes com estenose aórtica importante sintomática
com risco cirúrgico proibitivo. Do total, 489 pacientes foram
submetidos ao implante valvar por cateter. A mortalidade por qualquer
causa e AVC com sequelas em 1 ano de acompanhamento (desfecho
primário) foi de 26% (a meta era de 43% baseada em estudos prévios,
p<0,0001).
O
segundo, o Core Valve-US pivotal trial, incluiu 795 pacientes com
estenose aórtica importante sintomática com alto risco cirúrgico
(mortalidade > 15% em 30 dias estimada por um Heart Team). Os
pacientes foram randomizados em dois grupos para TAVI ou cirurgia de
troca valvar. A meta primária do estudo foi mortalidade por todas as
causas em 1 ano. A mortalidade por todas as causas foi
significativamente menor no grupo TAVI comparado à cirurgia (14,2%
vs. 19,1%; p<0,001 para não-inferioridade e p=0,04 para
superioridade, respectivamente). A incidência de acidente vascular
cerebral foi semelhante entre os grupos.
Em
resumo, as diretrizes internacionais devem em breve definir uma
mudança no grau de recomendação da indicação do tratamento de
pacientes com estenose aórtica, onde TAVI deverá ser o tratamento
de escolha em pacientes de alto risco cirúrgico (Classe I, nível de
evidência A) e uma alternativa em pacientes com risco cirúrgico
intermediário (Classe IIa, nível de evidência B)
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