O estudo HOPE-3 apresentado pela Dra. Eva Lonn da Universidade de
McMaster no Canadá avaliou o impacto do tratamento anti-hipertensivo
com candesartana e hidroclorotiazida em pacientes de risco
cardiovascular intermediário. O estudo não mostrou benefício do
tratamento redutor da pressão exceto em pacientes com PA sistólica
> 140mmHg.
A hipertensão arterial sistêmica é o principal fator de risco
cardiovascular. Populações de alto risco, como portadores de doença
renal, diabetes ou hipertensão com lesão de órgãos-alvo, assim
como hipertensos com PA sistólica > 160mmHg sem outros agravantes
apresentam benefício do uso de medicações anti-hipertensivas. O
impacto do controle pressórico em populações de risco
cardiovascular intermediário caracterizado pela ausência de doença
vascular e PA sistólica < 160mmHg (risco anual estimado em 1%),
entretanto, é pouco conhecido.
O estudo HOPE-3 aplicou um desenho fatorial 2 x 2 para comparar o
impacto do tratamento anti-hipertensivo, hipolipemiante ou ambos em
12.705 participantes com risco cardiovascular intermediário sem
doença estabelecida (prevenção primária; vide abaixo). Na análise
envolvendo o tratamento hipertensivo, os participantes foram alocados
aleatoriamente para receberem tratamento com candesartana 16mg e
hidroclorotiazida 12,5mg ao dia ou placebo. O estudo foi concebido
com dois desfechos co-primários. O primeiro deles incluiu uma meta
composta de morte cardiovascular, infarto do miocárdio não-fatal ou
AVC não -fatal. O segundo desfecho co-primário avaliou os mesmo
desfechos associados a parada cardíaca ressuscitada, insuficiência
cardíaca ou revascularização. Diversos desfechos secundários
também foram considerados. O seguimento médio dos pacientes foi de
5,6 anos.
Critérios de inclusão
Homens > 55 anos e mulheres > 65 anos com, pelo menos, um dos
fatores de risco cardiovascular abaixo ou mulheres > 60 anos com 2
fatores de risco:
índice cintura-quadril elevado
HDL baixo
tabagismo atual ou recente
intolerância a glicose
antecedentes familiares de doença arterial coronária prematura
disfunção renal leve
A idade média da população do estudo foi de cerca de 66 anos com
46% do sexo feminino. O principal fator de risco adicional foi a
elevação do índice cintura-quadril (87%). Aproximadamente, 36%
apresentavam HDL baixo, mas somente 13% tinham intolerância à
glicose. A PA média à inclusão no estudo foi de 138,1 x 81,9mmHg.
O tratamento anti-hipertensivo combinado com candesartana e
hidroclorotiazida promoveu uma redução de 6,0mmHg da PA sistólica
e 3,0mmHg da diastólica. O primeiro desfecho co-primário foi
observado em 4,1% dos participantes do grupo ativo e 4,4% do grupo
controle (HR 0,93; IC 95% 0,79 a 1,10; p=0,40). A segunda meta
co-primária foi verificada em 4,9% e 5,2% dos grupos,
respectivamente (HR 0,95; IC 95% 0,81 a 1,11: p=0,51). Em uma
subanálise pré-especificada que avaliou o impacto do tratamento
anti-hipertensivo por tercis de hipertensão, os portadores de PA
sistólica > 143,5 mmHg tiveram benefício do uso da medicação
redutora da pressão sobre as metas co-primárias (HR 0,76; IC 95%
0,60 a 0,96). Os demais grupos não tiveram qualquer vantagem
associada à redução da pressão. Ao contrário, os pacientes com
PA mais baixa mostraram uma tendência a apresentar prejuízo com o
tratamento anti-hipertensivo. Os efeitos colaterais foram muito
similares entre os grupos, exceto por uma sensação de tontura que
foi mais comum no grupo intervenção (3,4% vs. 2,0; p<0,001).
A incidência de síncope e disfunção renal foi semelhante entre os
grupos.
Em conclusão, o tratamento anti-hipertensivo diário com
candesartana e hidroclorotiazida não reduziu a ocorrência de
eventos cardiovasculares em pacientes com risco intermediário sem
doença cardiovascular. Assim, o tratamento anti-hipertensivo deve
manter-se restrito aos pacientes hipertensos ou de risco
cardiovascular elevado. A estratificação de risco dos pacientes sem
considerar os valores de PA isoladamente tem sido referendada pelas
sociedades americanas de cardiologia e foi empregada no ensaio
clínico SPRINT apresentado recentemente no congresso da American
Heart Association. O estudo HOPE-3, de forma similar ao estudo
SPRINT parece mostrar benefício do controle pressórico mesmo para
níveis mais reduzidos de PAS entre 140-160 mmHg em pacientes de
risco intermediário.
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