Artigos Científicos

Home

FOURIER – O inibidor do PCSK9 evolocumabe reduz a incidência de eventos cardiovasculares em pacientes de alto risco.

Dr. Roberto Giraldez 

Os ensaio clínico FOURIER acaba de ser apresentado no congresso do American College of Cardiology 2017 em Washington nos EUA e publicado simultaneamente no New England Journal of Medicine. O estudo demonstrou que a administração do inibidor do PCSK9 evolocumabe em portadores de doença cardiovascular tratados com terapia hipolipemiante reduziu a incidência de eventos adversos.


Os inibidores de PCSK9 são agentes capazes de bloquear a decomposição do receptor de colesterol LDL (LDL-c) depois de sua internalização no hepatócito. Dessa forma, eles aumentam a disponibilidade de receptores na superfície celular dos hepatócitos, reduzindo os níveis séricos de LDL-c. Evolocumabe é um anticorpo totalmente humanizado capaz de reduzir o LDL-C em, aproximadamente, 60% em adição às estatinas com boa tolerância clínica e baixo índice de efeitos colaterais.

O estudo FOURIER foi desenhado para testar a hipótese de que a administração de evolocumabe a pacientes com doença cardiovascular estabelecida (infarto ou AVC prévio ou doença arterial periférica sintomática) em terapia com estatinas, poderia reduzir a incidência de eventos cardiovasculares maiores. Além disso, o estudo avaliou a segurança e tolerância da medicação e o impacto de reduções dramáticas do LDL-c sobre a evolução dos pacientes.

Portadores de doença cardiovascular com LDL-c ≥ 70mg/dL ou não-HDL-c ≥ 100mg/dL em vigência de terapia hipolipemiante moderada com estatinas e ezetimiba foram alocados de forma aleatória em dois grupos pra receber evolocumabe 140mg a cada 2 semanas ou 420mg ao mês (de acordo com a preferência do paciente) ou placebo. A meta primária de eficácia foi morte cardiovascular, infarto do miocárdio (IM), AVC, hospitalização por angina instável ou revascularização coronária. O estudo também também teve poder estatístico para o desfecho secundário de morte cardiovascular, IM ou AVC.

O ensaio clínico FOURIER incluiu 27.564 pacientes com idade média de 63 anos (75% do sexo masculino). Aproximadamente 81% dos pacientes selecionados tinham antecedentes de IM, enquanto 19% haviam apresentado AVC e os restantes 13% eram portadores de doença periférica sintomática. Cerca de 37% eram diabéticos. O nível basal de LDL-c de 92mg/dL (80-109mg/dL) foi reduzido em 59% depois da administração de evolocumabe (30mg/dL; P<0,00001). Os níveis de LDL-C se mantiveram estáveis ao longo do seguimento médio de 26 meses. O uso de evolocumabe promoveu uma redução de 15% na incidência de eventos do desfecho primário (14,6% vs. 12,6%; HR 0,85; IC95% 0,79-0,92: P< 0,0001). Em relação ao desfecho secundário composto de morte cardiovascular, IM ou AVC, a queda foi ainda mais importante (9,9% vs. 7,9%; HR 0,80; IC95% 0,73-0,88). Essa redução foi produzida, principalmente, por uma queda das taxas de reinfarto (HR 0,73; IC95% 0,65-0,82) e de AVC (HR 0,79; IC95% 0,66-0,95). As taxas de revascularização coronária também foram menores no grupo evolocumabe (9,2% vs. 7,0%: HR 0,78; IC95% 0,71-0,86:). O benefício observado com evolocumabe foi independente dos níveis basais de LDL-c ou da intensidade da terapia com estatinas, tornando-se mais aparente com a continuidade do tratamento após 1 ano.

O estudo não observou aumento de efeitos adversos com evolocumabe em relação ao placebo, incluindo reações alérgicas, desenvolvimento de catarata, diabetes e distúrbios neurocognitivos.

Em conclusão, pode-se dizer que o uso de evolocumabe em portadores de doença cardiovascular reduziu drasticamente os níveis de LDL-c a níveis bem abaixo das metas atuais, promovendo uma queda significativa da incidência de eventos sem efeitos adversos colaterais.
Esses resultados nos permitem extrair algumas conclusões extremamente importantes. A primeira delas é que o benefício da terapia hipolipemiante parece estar relacionado à redução isolada do LDL-c. Diferentes agentes com mecanismos distintos de ação parecem promover benefícios similares na redução de eventos cardiovasculares. Outra conclusão importante do estudo FOURIER é que surpreendentemente ainda não alcançamos um nível mínimo de LDL-c associado a uma perda do benefício da terapia hipolipemiante em portadores de doença cardiovascular. Concentrações extremamente reduzidas entre 20 e 30mg/dL parecem ainda manter grande benefício na redução de eventos de forma segura. Assim, o evolocumabe une-se ao atual arsenal terapêutico para prevenção da doença arterial coronária em pacientes de alto risco cardiovascular.

Sabatine MS, Giugliano RP, Keech AC et al. Evolocumab and Clinical Outcomes in Patients with Cardiovascular Disease.






Desenvolvido pela Diretoria de Tecnologia da SBC - Todos os Direitos Reservados

© Copyright 2017 | Sociedade Brasileira de Cardiologia | tecnologia@cardiol.br