Dr. Bruno Biselli
Introdução:
A terapia de anticoagulação oral com varfarina é efetiva na prevenção da recorrência de tromboembolismo venoso (TEV) espontâneo. Entretanto, além de não diminuir mortalidade, apresenta alto risco de sangramentos e inconveniências do uso de inibidores de vitamina K, fazendo com que a maioria dos pacientes interrompam o tratamento com 3 a 6 meses, apesar das recomendações de se mantê-lo por um período mais prolongado.
Pacientes que apresentam um primeiro evento de TEV espontâneo apresentam alto risco de recorrência de eventos após a suspensão dos anticoagulantes e a aspirina pode ser efetiva na prevenção da recorrência de TEV.
Objetivo:
Avaliar a eficácia de baixas doses de aspirina na prevenção de recorrência de TEV após término da anticoagulação oral em pacientes com primeiro evento de TEV espontâneo.
Métodos:
Foram incluídos pacientes com primeiro evento de trombose venosa profunda proximal (TVP) ou tromboembolismo pulmonar (TEP) e após 3-12 meses de tratamento com anticoagulantes orais foram randomizados para receber cegamente (duplo-cego) aspirina 100 mg ou placebo. O desfecho primário foi recorrência de TEV (TVP sintomática, TEP ou TEP fatal). Os desfechos secundários foram eventos cardiovasculares maiores - TEV recorrente, infarto agudo do miocárdio (IAM), acidente vascular cerebral (AVC) ou morte cardiovascular. Foi avaliado também o benefício líquido (redução na taxa de eventos combinados de TEV, IAM, AVC, sangramentos maiores e morte por qualquer causa). O seguimento dos paciente foi por até 4 anos após randomização e a análise foi por intenção de tratar.
Resultados:
Foram randomizados 822 pacientes, sendo 411 em cada grupo. A idade média da população foi de 54 anos e 46% eram mulheres.
A duração do tratamento com anticoagulação oral foi menor que 3 meses em 26% da população, de 3 a 6 meses em 47% e maior que 6 meses em 27%. O tempo médio de seguimento foi 37,2 meses.
Os resultados dos desfechos primário e secundários estão nas figuras 1 e 2 respectivamente:
Figura 1: Resultados do desfecho primário
Figura 2: Resultados dos desfechos secundários
O risco de recorrência de eventos foi maior no primeiro ano de seguimento em ambos os grupos (10,6% no grupo placebo vs. 4,9% no grupo aspirina).
Na análise de benefício líquido, verificou-se com o uso da aspirina uma redução de 33% do desfecho composto [HR 0,67; Intervalo de confiança de 95% (IC95%), 0,49-0,91; p=0,01).
Taxas de sangramentos foram estatisticamente semelhantes: oito pacientes (0,6%) no grupo placebo e 14 (1,1%) no grupo aspirina, sendo 2 casos de sangramento fatal em cada grupo.
Durante o seguimento, 132 pacientes do grupo placebo e 117 do grupo aspirina descontinuaram a medicação do estudo. A redução de risco de eventos com aspirina após analisar os pacientes que utilizaram a medicação do estudo ( as treated) foi de 33%, enquanto que por intenção de tratar a redução foi de 26%.
Conclusão e perspectivas:
Apesar do estudo ASPIRE não mostrar diferença significativa entre aspirina e placebo na prevenção de recorrência de tromboembolismo venoso, houve uma redução significativa nas taxas de eventos cardiovasculares e melhora do benefício líquido, sem aumentar as taxas de sangramento. A alta taxa de pacientes que descontinuaram a medicação durante o seguimento do estudo pode ter contribuído para subestimar esse potencial benefício da aspirina.
O presente estudo não randomizou o número necessário de pacientes para manter um poder estatístico adequado para afirmar o desfecho primário. Porém quando combinado com os resultados de outro estudo randomizado semelhante - WARFASA - no qual as características de base foram semelhantes com o ASPIRE, nota-se um claro benefício da aspirina com uma redução de 32 % na recorrência de eventos tromboembólicos (p=0,007) e redução de 34% nas taxas de eventos cardiovasculares (p=0,002), sem aumento no número de sangramentos.
Dessa forma, com o resultado do estudo ASPIRE, principalmente quando combinados com os resultados do estudo WARFASA, torna a aspirina uma opção atraente para pacientes que terminaram tratamento com anticoagulantes após um primeiro evento tromboembólico espontâneo, devido a diminuição nas taxas de recorrências de eventos TEV, eventos cardiovasculares e a baixas taxas de sangramentos.
Veja o estudo ASPIRE publicado no New England Journal of Medicine aqui.
Acesse os slides originais da apresentação do Dr. Brighton no hotsite do Programa de Cobertura Online.
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