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UMPIRE: O uso da polipílula aumenta a aderência à medicação e melhora o controle pressórico e da dislipidemia
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Roberto Rocha Giraldez

A maioria dos portadores de doença cardiovascular não segue o tratamento medicamentoso recomendado a longo prazo. Em nações da baixa renda, onde atualmente ocorre a maior parte das mortes associadas à doença cardiovascular, mais de 90% dos pacientes que sofreram um acidente vascular cerebral ou infarto agudo do miocárdio não recebem qualquer medicação para a prevenção secundária. Mesmo em países ricos, esses valores alcançam cerca de 30 a 50% dos pacientes. Um dos motivos descritos para a baixa aderência medicamentosa é a complexidade introduzida pelo alto número de comprimidos utilizados pelos pacientes. O estudo UMPIRE (Use of a Multidrug Pill In Reducing cardiovascular Events) testou a estratégia do uso diário de uma única pílula contendo uma combinação de medicamentos (AAS, estatina e dois ou mais agentes anti-hipertensivos) para a prevenção secundária da doença cardiovascular. Duas formulações com doses fixa foram empregadas:

1. AAS 75mg, sinvastatina 40mg, lisinopril 10mg e atenolol 50mg ou;
2. AAS 75mg, sinvastatina 40mg, lisinopril 10mg e hidroclorotiazida 12.5mg.

O estudo UMPIRE randomizou 2004 pacientes de alto risco cardiovascular (≥ 15% em 5 anos) ou com doença cardiovascular estabelecida para estratégia terapêutica com polipílula ou tratamento medicamentoso tradicional. Os pacientes foram selecionados em 29 centros da Índia e Europa (Londres, Dublin e Utrecht) e acompanhados por 18 meses. O desfecho primário do estudo foi a aderência à medicação manifestada pelo próprio paciente e as variações da pressão arterial sistólica (PAS) e dos níveis séricos de LDL em relação às concentrações basais.

Os pacientes incluídos no estudo UMPIRE apresentavam idade média de 62 anos e eram, predominantemente, do sexo masculino (82%). A PAS basal foi de 137mmHg e o LDL de 89mg/dl. A maioria dos pacientes tinha antecedentes de doença arterial coronária (76%) ou doença cerebrovascular (15%) e 28% eram diabéticos. A tabela abaixo descreve o uso de medicações no momento da inclusão no estudo.



Ao final do seguimento, 86% dos pacientes no grupo que recebeu a polipílula mantinham aderência ao tratamento, enquanto 65% no grupo convencional continuaram a terapêutica medicamentosa (HR 1,33; 95%IC 1,26-1,41; P<0,001).

 

A PAS foi de 129,2mmHg e 131,07mmHg nos grupos que receberam polipílula e tratamento convencional, respectivamente (-2,6mmHg. 95%IC -4,0--1,1; P=0,0005). Resultados similares foram vistos em relação ao LDL com níveis séricos de 84,3mg/dl no grupo de tratamento único diário e 88,6mg/dl com tratamento aberto (P=0,00045). O aderência ao tratamento foi consistentemente maior no grupo que recebeu dose única diária, mas, parece ter sido especialmente maior em alguns subgrupos, como nos pacientes com fatores de risco sem doença estabelecida ou em pacientes tabagistas.



Em conclusão, o uso de uma estratégia de combinação fixa de medicamentos incluindo um agente antiplaquetário, estatina e drogas hipotensoras aumentou a aderência em 33% e reduziu a PAS e LDL ao longo de 15 meses de seguimento em portadores de doença cardiovascular estabelecida ou risco cardiovascular elevado comparado ao tratamento padrão. Assim, a despeito do tratamento personalizado que buscamos hoje em dia para se alcançar as metas estabelecidas de pressão e colesterol, a falta de aderência é um problema real que se interpõe ao nosso objetivo. O uso de medicações com dose fixa, apesar de não individualizar o tratamento, é uma opção terapêutica populacional bastante eficaz.

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