Roberto Rocha Giraldez
Ao longo das últimas décadas, a terapia de quelação com EDTA (disodium ethylene diamine tetra acetic acid) associada a vitaminas vem sendo aplicada com freqüência crescente no Brasil. Nos EUA, a sua utilização em portadores de doença arterial coronária aumentou 68% entre 2002 e 2007 (mais de 100 mil pacientes) a despeito da recomendação geral das sociedades médicas desencorajando o seu uso. A literatura médica carece de evidências que sustentem a terapia de quelação. Algumas séries de casos sugerem benefício dessa terapêutica, mas os estudos clínicos atualmente disponíveis, embora de pequeno porte para oferecer uma resposta definitiva, mostram resultados negativos. O principal mecanismo de ação dos agentes quelantes é a sua ligação a cátions divalentes, facilitando sua excreção renal e diminuindo sua ação lesiva sobre a parede vascular. O ensaio clínico TACT foi desenvolvido para avaliar os riscos e benefícios da terapia de quelação.
Esse estudo selecionou 1708 pacientes com mais de 50 anos que haviam apresentado infarto do miocárdio (IM), pelo menos, 6 meses antes da inclusão. Os pacientes foram randomizados em 134 centros dos EUA e Canadá para receberem solução quelante ou placebo e depois rerrandomizados para tratamento com dose elevada de vitaminas ou placebo (desenho fatorial 2 x 2). O seguimento médio previsto para o estudo foi de 55 meses. A meta principal foi composta por mortalidade total, IM recorrente, acidente vascular cerebral (AVC), revascularização coronária ou hospitalização por angina instável. Os componentes da solução quelante incluíam 3g de EDTA, 7g de ácido ascórbico, e 100mg de piridoxina, além de diversos minerais. As infusões eram feitas semanalmente por 30 semanas e, depois disso, a cada 2 ou 8 semanas até completar 40 sessões.
Os pacientes selecionados para o estudo TACT tinham, em média, 65 anos e cerca de 82% eram do sexo masculino. A população apresentava alto risco cardiovascular caracterizado pela alta prevalência de procedimentos de revascularização prévios (83%) e de diabéticos (32%). Os pacientes que receberam solução quelante apresentaram uma redução significativa de 18% da meta primária composta por mortalidade total, IM recorrente, AVC, revascularização coronária ou hospitalização por angina instável (HR 0,82; 95%IC 0,69-0,99; P=0,035).
O resultado global do estudo foi confirmado em todos os subgrupos pré-especificados, porém, o benefício foi significativamente maior entre os diabéticos (HR 0,61; 95%IC 0,45-0,83; P=0,002).
Em conclusão, o estudo TACT mostrou que um esquema de 40 infusões de EDTA associado a um complexo vitamínico em portadores de doença coronária reduziu em 18% a ocorrência de eventos clínicos em 5 anos de seguimento com maior benefício entre os diabéticos. As diversas limitações associadas a esse estudo, no entanto, não permitem garantir a efetividade do tratamento com agentes quelantes nesses pacientes, porém, esses resultados abrem espaço para que novos estudos mais robustos sejam conduzidos nessa população.
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