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O Uso de Nitratos Reduz a Resistência Física em Portadores de Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Preservada

O ensaio clinico randomizado NEAT (Nitrate’s Effect on Activity Tolerance in Heart Failure with Preserved Ejection Fraction) apresentado pela Dra. Margaret M. Redfield da Mayo Clinic, EUA,  mostrou que o emprego de nitratos orgânicos em portadores de insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP) reduziu a sua capacidade física avaliada por um meio de um dispositivo de medição contínua da atividade física, conhecido por acelerômetro (accelerometer).

A ICFEP é um entidade clínica de grande importância epidemiológica. Acredita-se que cerca de metade dos pacientes admitidos em hospitais por queixas de IC sejam portadores de ICFEP.            A intolerância ao exercício é uma característica da ICFEP que acaba por determinar um comportamento sedentário por parte de seus portadores. perpetuando as manifestações de cansaço. O arsenal terapêutico da ICFEP é bastante limitado, restringindo-se ao uso de betabloqueadores e diuréticos. Assim, frequentemente os pacientes com ICFEP voltam a apresentar sintomas sem muitas alternativas de tratamento. Nesse cenário, o uso de nitratos é comum com o intuído de reduzir a pré-carga e congestão pulmonar, aumentando a tolerância ao esforço. A sua utilização, entretanto, está associada a efeitos colaterais bastante conhecidos, principalmente a hipotensão. O objetivo do estudo NEAT foi comparar o impacto do uso de nitratos ao placebo em portadores de ICFEP. Para tanto, os pacientes foram mantidos com acelerômetros, aparelhos que medem continuamente o esforço físico ao longo do dia. A monitorização contínua, provavelmente, avalia com mais precisão o impacto do tratamento sobre a capacidade física.

O estudo incluiu portadores de IC em CF II –IV (NYHA) e FE ³50%. O paciente deveria apresentar, pelo menos, uma evidência objetiva de IC: (1) hospitalização por IC; (2) elevação do BNP ou NT-proBNP; (3)  elevação da PCR em repouso ou ao esforço ou; (4) disfunção diastólica ao ecocardiograma. O ensaio clínico NEAT empregou doses crescentes de nitratos desde 30 até 120mg. A dose máxima tolerada da medicação foi usada para avaliar seu efeito sobre a capacidade física. O desenho do estudo foi cego e cruzado, ou seja, os pacientes receberam tratamento com nitrato e placebo.

Os 110 pacientes incluídos no estudo tinham, em média, 69 anos e eram, predominantemente, do sexo feminino. Cerca de 90% dos pacientes eram portadores de hipertensão e mais de 1/3 deles apresentava antecedentes de fibrilação atrial. O emprego de nitratos determinou uma redução das horas de atividade física diária avaliada pelo acelerômetro (P=0,02). Isso aconteceu ao longo do espectro de todas as doses de nitrato do estudo. Avaliado pelo teste de caminhada de 6 minutos, o nitrato também não promoveu nenhum aumento da capacidade física dos pacientes. Os níveis de BNP e NT-proBNP se mantiveram estáveis ao longo do estudo.

Em conclusão, o uso de mononitrato de isossorbida em portadores de ICFEP reduziu a capacidade física diária em relação ao placebo sem alterar os escores de qualidade de vida ou níveis de BNP/NT-proBNP. Esses resultados, de certa forma, frustram a comunidade cardiológica que esperava contar com mais uma opção de tratamento em uma doença de difícil controle clínico. 

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