As diretrizes de ressuscitação cardiopulmonar recomendam que as manobras de compressões torácicas e ventilações sejam feitas na proporção de 30:2 quando não existe uma via aérea avançada, sendo necessária a interrupção momentânea das manobras para as ventilações com bolsa valva-máscara. O estudo ROC, apresentado no AHA 2015 e publicado simultaneamente no New England Journal of Medicine, mostrou que, em pacientes com parada cardiorrespiratória (PCR) extra-hospitalar, as compressões torácicas contínuas durante a ressuscitação cardiopulmonar (RCP) não resultou em maiores taxas de sobrevivência com função neurológica favorável em relação ao método tradicional com interrupções.
O ROC foi um ensaio clínico randomizado por cluster, com cruzamento, no qual adultos com PCR não traumática foram distribuídos em 2 grupos: o primeiro com compressões torácicas contínuas (grupo intervenção) e o segundo com compressões interrompidas (grupo controle). Os pacientes do grupo intervenção receberam compressões torácicas contínuas a uma taxa de 100/minuto, com ventilações por pressão positiva assíncronas entregues na frequência de 10 ventilações/minuto. Os pacientes do grupo controle receberam RCP padrão com compressões interrompidas para ventilações na proporção de 30:2. O desfecho primário foi a taxa de sobrevivência até a alta hospitalar. O desfecho secundário incluiu indicadores de função neurológica (escala Rankin).
Um total de 23.711 pacientes foram incluídos. Desses, 9% (1.129 pacientes) do grupo de intervenção e 9,7% (1.072 pacientes) do grupo controle sobreviveram até a alta hospitalar (p=0,07). Também não houve diferenças em relação à sobrevida com status neurológico favorável (7.0% no grupo intervenção vs. 7,7% no grupo controle). No entanto, o tempo de sobrevida após alta hospitalar foi significativamente menor no grupo de intervenção do que no grupo controle (p = 0,004).
Mais uma vez, este estudo reforça a necessidade de ensaios clínicos randomizados, mesmo em cenários difíceis para inclusão de pacientes como no atendimento de PCR. Estudos observacionais com PCR extra-hospitalar tinham sugerido que as compressões contínuas estavam associados a maiores taxas de sobrevivência do que as compressões torácicas interrompidas. Fisiologicamente, interrupções nas compressões diminui a circulação coronária e a eficácia da RCP. No entanto, neste grande ensaio clínico randomizado, isso não foi confirmado. Apesar dos autores terem feito uma série de ajustes para verificar a adesão ao protocolo, muitos casos tiveram de ser excluídos da análise, pois a qualidade da RCP com compressões ou interrupções não pôde ser verificada.
Desenvolvido pela Diretoria de Tecnologia da SBC - Todos os Direitos Reservados
© Copyright 2015 | Sociedade Brasileira De Cardiologia | tecnologia@cardiol.br