Foram apresentados hoje no congresso da American Heart Association, em Orlando, EUA, os resultados há muito aguardados do estudo SPRINT. No último mês de setembro, a agência do governo norte-americana que conduzia o estudo interrompeu precocemente o mesmo por causa dos benefícios inequívocos que os resultados parciais já demonstravam.
As últimas diretrizes internacionais reafirmaram o diagnóstico de hipertensão quando a pressão arterial se encontra acima de 140/90 mmHg. No entanto, havia incertezas e controvérsias sobre o alvo ideal para a redução da pressão arterial nos pacientes que iniciavam o tratamento, principalmente naqueles acima de 60 anos (que normalmente apresentam níveis mais elevados da pressão arterial sistólica isoladamente). Estudos clínicos demonstram que o tratamento de hipertensão diminui o risco de doenças cardiovasculares, reduzindo a incidência de acidente vascular cerebral em até 40%, o risco de infarto do miocárdio em até 25%, e de insuficiência cardíaca em até 64%. No entanto, a meta ideal para a redução da pressão arterial sistólica ainda era incerta até a conclusão do estudo SPRINT.
O estudo SPRINT incluiu 9.361 adultos com idade média de 68 anos, com o diagnóstico de hipertensão e pelo menos um fator de risco adicional para a doença cardiovascular (exceto diabetes). Os pacientes foram aleatoriamente divididos em dois grupos: (1) tratamento intensivo, visando uma pressão arterial sistólica inferior a 120 mmHg, ou (2) tratamento padrão, visando uma pressão arterial sistólica inferior a 140 mmHg. Após o acompanhamento desses pacientes por uma média de 3,5 anos, no grupo que recebeu tratamento intensivo foram observadas reduções de 27% na mortalidade e de 25% no desfecho primário composto de infarto do miocárdio, síndrome coronariana aguda, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca congestiva (ICC), ou morte cardiovascular, quando comparados com o grupo de tratamento padrão.
Componentes dos desfechos: (taxas de eventos para o tratamento intensivo vs. Padrão):
Desfecho composto: 5,2 % vs. 6,8%, p <0,0001
Infarto do miocárdio: 2,1% vs. 2.5%, p = 0,19
Angina instável: 0,9% vs. 0,9%, p = 0,99
Acidente vascular cerebral: 1,3% vs. 1,5%, p = 0,50
Insuficiência cardíaca: 1,3% vs. 2.1%, p = 0,002
Morte cardiovascular: 0,8% vs. 1,4%, p = 0,0005
Mortalidade geral: 3,3% vs. 4,5%, p = 0,0003
Por outro lado, também houve também maior incidência de efeitos colaterais no grupo de tratamento intensivo. Entre os pacientes com doença renal crônica, o desfecho composto renal (redução na TFG ≥50%, necessidade de hemodiálise ou transplante renal) foi 1,1% vs 1.1%, e entre os pacientes sem DRC, um declínio da TFG ≥30% foi de 3,8% vs. 1,1%, respectivamente (p <0,001). Outros efeitos colaterais comuns foram:
Hipotensão: 2,4% vs. 1,4%, p = 0,001
Síncope: 2,3% vs 1.7%, p = 0,05
Hiponatremia: 3,8% vs. 2,1%, p <0,001
Os pesquisadores concluem que entre pacientes hipertensos de alto risco cardiovascular, mas sem diabetes, o tratamento objetivando uma pressão arterial sistólica inferior a 120 mmHg, em comparação com a pressão arterial inferior a 140 mmHg, resultou em menores taxas de eventos cardiovasculares e inclusive de morte, embora tenham sido observadas taxas significativamente maiores de alguns eventos adversos no grupo sob tratamento intensivo.
Este estudo finalmente nos dá evidências sólidas para que possamos tratar nossos pacientes objetivando uma pressão arterial sistólica de 120mmHg. É claro que não podemos ignorar os efeitos colaterais que esse tratamento mais intensivo pode acarretar, mas as abordagens devem ser individualizadas e numa relação médico-paciente bem estabelecida, com acompanhamento mais regular e frequente desses pacientes, esses eventos adversos possam ser adequadamente minimizados e controlados.
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