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Estudo EUCLID: Comparação entre os efeitos de ticagrelor e clopidogrel na doença arterial periférica.

Autor: Prof. Dr. Roberto Rocha Giraldez.

 

Na tarde deste domingo o Dr. Manesh Patel, professor associado da Universidade de Duke, apresentou os resultados do estudo EUCLID (Examining Use of tiCagreLor In paD). Esse ensaio clínico comparou se o tratamento de longo prazo com ticagrelor seria superior ao uso de clopidogrel na prevenção de desfechos cardiovasculares em portadores de doença arterial oclusiva periférica (DAOP). Os resultados não mostraram vantagens do uso de ticagrelor sobre o clopidogrel nessa população de pacientes.
 
A DAOP é uma manifestação de aterosclerose sistêmica que acomete mais de 200 milhões de pessoas em todo o mundo. A sua presença associa-se a um aumento da morbidade e mortalidade cardiovascular, sendo recomendado o uso de terapia antiplaquetária. O estudo CAPRIE demonstrou uma redução dos desfechos adversos cardiovasculares com clopidogrel em relação ao AAS em portadores de DAOP às custas de uma redução dos eventos periféricos. O ticagrelor, por sua vez, foi superior ao clopidogrel na doença coronária aguda, além de ter demonstrado benefício na doença crônica em portadores de infarto do miocárdio (IM) prévio. Dessa forma, o ensaio clínico EUCLID foi desenhado para comparar o efeito de um antiplaquetário mais potente, o ticagrelor, em relação ao clopidogrel na prevenção de morte cardiovascular, IM e AVC (desfecho primário) em pacientes com sintomas de DAOP. O desfecho secundário comparou também a incidência de isquemia periférica aguda com necessidade de hospitalização. 
 
O EUCLIDE foi um estudo randomizado e duplo-cego em que pacientes com DAOP sintomática (ITB≤0,80 ou revascularização cirúrgica de MMII) foram selecionados para receber ticagrelor 90mg (12/12h) ou clopidogrel 75mg ao dia. Pacientes com baixa metabolização do clopidogrel ou com necessidade de terapia antiplaquetária dupla foram excluídos do ensaio.
 
O estudo incluiu 13.855 com idade média de 66 anos (72% do sexo masculino). Aproximadamente 12% haviam apresentado AVC ou acidente isquêmico transitório (AIT) prévios, 18% tinham antecedentes de IM e 23% haviam sido submetidos à revascularização miocárdica. Depois de 3 anos de seguimento, a incidência de eventos da meta primária foi de 12,5% em ambos os grupos (ticagrelor vs. clopidogrel: HR 1,02; IC95% 0,92-1,13; P=0,65). Nenhum componente da meta primária ou a isquemia periférica aguda foi diferente entre os grupos. Em relação aos desfechos de segurança, a incidência de sangramentos maiores avaliados pela escala TIMI foi similar nos dois grupos (1,65 vs. 1,6%; P=0,49). Os sangramentos menores (TIMI) mostraram tendência a serem mais comuns no grupo ticagrelor (1,2% vs. 1,0%; 1,32; IC95% 0,96-1,83; P=0,09). A necessidade de interrupção da medicação, no entanto, foi significativamente mais comum entre os que receberam ticagrelor (15,4% vs. 11,1%) tanto por dispneia (4,8% vs. 0,8%; P<0,001) quanto por complicações hemorrágicas (2,4% vs. 1,6%; P<0,001) . Os subgrupos analisados não mostraram diferenças em relação aos resultados globais exceto em pacientes com história de revascularização coronária ou de carótidas e implante prévio de stent em que o ticagrelor parece ter sido superior ao clopidogrel (P=0,03). 
 
Em conclusão, o estudo EUCLID não mostrou superioridade do ticagrelor em relação ao clopidogrel na prevenção de eventos cardiovasculares em portadores de DAOP. Sangramento também foi similar entre os grupos, embora mais pacientes tenham descontinuado tratamento com ticagrelor. Assim, o clopidogrel persiste como uma boa opção no tratamento de doentes com DAOP. Deve-se ressaltar que a extrapolação dessas evidências para doentes com doença coronária deve ser feita com extrema cautela por se tratarem de grupos com doença primária em leitos vasculares distintos e de risco global diferente.

 

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