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Subanálise do estudo HOPE-3: poderiam os tratamentos para colesterol e hipertensão ter alguma influência sobre a cognição?
Autor: Dr. Lucas Godoy
O ensaio clínico HOPE-3 avaliou se a administração de anti-hipertensivos (candesartana e hidroclorotiazida) e de estatina (rosuvastatina) em pacientes de moderado risco cardiovascular poderia levar à redução de desfechos cardiovasculares. O estudo, apresentado no congresso do American College of Cardiology no início de 2016, demonstrou que as medicações anti-hipertensivas tiveram benefício restrito a pacientes com hipertensão descontrolada, enquanto a rosuvastatina promoveu uma redução de desfechos de cerca de 25%, independente do valor inicial de LDL colesterol. No congresso da American Heart Association foi apresentada uma subanálise avaliando a influência dessas terapias sobre as funções cognitivas dos pacientes acima de 70 anos. Ao longo dos quase 6 anos de seguimento, esses pacientes septuagenários apresentaram, como esperado, evidências de declínio cognitivo. A terapia com estatina e anti-hipertensivos não foi capaz de interromper essa progressão, embora, algum benefício tenha sido observado em pacientes com níveis basais de pressão e de LDL colesterol mais elevados.
Distúrbios cognitivos e demência afetam 5 a 7% da população com mais de 60 anos. Hipertensão arterial e uso de estatinas estão associados a declínio cognitivo. O estudo HOPE-3 incluiu mais de 12 mil pacientes de médio risco cardiovascular para avaliar o impacto da terapia anti-hipertensiva e hipolipemiante sobre desfechos cardiovasculares. Os resultados mostraram uma redução de 25% dos eventos adversos em pacientes tratados com rosuvastatina e 24% em hipertensos descontrolados que receberam candesartana e hidroclorotiazida. A população selecionada para o estudo incluiu 3086 pacientes acima de 70 anos, representando um grupo numeroso para avaliação do impacto do controle pressórico e lipêmico sobre a capacidade intelectual. Ao final do seguimento, 1626 idosos concluíram com êxito os questionários de cognição empregados. A idade média desses pacientes foi de 75 anos, sendo 59% do sexo feminino, 45% hipertensos, 6% diabéticos com valor médio de LDL basal de 128 mg/dL. Ao final do tratamento, observou-se redução média de 25mg/dL no LDL colesterol e de 6 e 3mmHg na pressão sistólica e diastólica, respectivamente. Os grupos de tratamento foram terapia anti-hipertensiva isolada, estatina isolada e terapia combinada com estatina e anti-hipertensivos (fatorial 2X2). Em relação à cognição, todos os grupos apresentaram declínio cognitivo ao longo do seguimento de 5,6 anos. A despeito do controle da PA e da redução dos níveis de LDL colesterol ou ambos, não houve qualquer diferença entre os grupos tratados e placebo em todas as escalas aplicadas (P=0,86; P=0,38 e P=0,63, respectivamente). Uma subanálise que avaliou idosos com hipertensão e LDL colesterol elevados mostrou melhora significativa da função cognitiva com o tratamento, embora, esses resultados ainda precisem de confirmação.
Apesar do resultado neutro, esse estudo é extremamente importante porque alguns registros tem demonstrado efeito prejudicial do controle pressórico e lipêmico sobre a cognição. Neste estudo, os valores médios de LDL após tratamento oscilaram entre 80 e 100 mg/dL e isso não ocasionou qualquer malefício neurológico perceptível. O mesmo ocorreu com o controle pressórico.
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