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Uso de drogas antiarrítmicas após ablação para FA não reduziu recorrência de arritmias a longo prazo

Autora: Dra. Patrícia Guimarães.

Em pacientes com fibrilação atrial, a recorrência de arritmias nos primeiros meses após ablação por cateter é comum, podendo chegar a até 70% em pacientes com FA permanente ou persistente. A busca de métodos que reduzam essa recorrência foi o racional para o estudo Kansai Plus Atrial Fibrillation (KPAF), realizado em 19 centros no Japão, e apresentado no Congresso Europeu de Cardiologia. Este ensaio clínico randomizado e controlado teve desenho fatorial 2 x 2, sendo composto pelos estudos EAST-AF e UNDER-ATP. O primeiro avaliou o papel do uso de drogas antiarrítmicas após o procedimento de ablação para fibrilação atrial (FA) na redução da recorrência de arritmias a longo prazo, e o segundo comparou o isolamento das veias pulmonares guiado por adenosina com o procedimento padrão.

Foram incluídos 2038 pacientes com FA paroxística, persistente ou permanente que iriam ser submetidos a ablação por cateter. Dentre os critérios de exclusão destacaram-se intolerância ou contra-indicação a adenosina ou antiarrítimicos classes I ou III, e pacientes com duração de FA ≥ 5 anos. No estudo EAST-AF, os participantes foram randomizados para receberem tratamento com drogas antiarrítmicas por 90 dias após a ablação (n=1016), ou para o grupo controle (n=1022). O desfecho primário do estudo foi recorrência de taquiarritmias em 1 ano, com exceção do período de 90 dias nos quais os pacientes estavam sendo tratados.

Os pacientes tinham idade média de 63 anos e cerca de 2 terços apresentavam FA paroxística. No grupo intervenção, os antiarrítmicos mais utilizados foram da classe I (25% usaram pilsicanida, 22,8% flecanida, 15,4% civenzolina, dentre outros), e apenas aproximadamente 5% usaram amiodarona. Durante o período de tratamento (90 dias), a sobrevida livre de arritmias foi 59% no grupo intervenção e 52,1% no grupo controle (HR 0,84, IC 95%0,73-0,96; p=0.01). Entretanto, essa diferença não foi mantida após a suspensão do tratamento. Entre 90 dias e 1 ano após a ablação, a sobrevida livre de recorrência de arritmias foi de 69,5% no grupo intervenção e 67.8% no grupo controle (HR 0,93, IC 95% 0,79-1,09; p=0.38). Este achado foi consistente em todos os subgrupos, inclusive em diferentes tipos de FA.

Acreditava-se que o uso de drogas antiarrítmicas para auxiliar a manutenção do ritmo sinusal após o procedimento de ablação poderia prevenir a recorrência de arritmias e melhorar desfechos clínicos a longo prazo. Este estudo mostrou não haver diferença entre os grupos no desfecho primário. Entretanto, a aplicabilidade desses resultados para nossa prática clínica é comprometida devido ao fato de os agentes antiarrítmicos utilizados no Japão serem muito diferentes dos prescritos no Ocidente. A amiodarona, antiarrítmico de uso em larga escala no Brasil, foi utilizada por apenas 5% dos participantes do estudo. Desta forma, os resultados do EAST-AF devem ser analisados a luz desta limitação.

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