Dr. Bruno Paolino
Resumo: O estudo PRAGUE 12 foi apresentado hoje no congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, em Munique, na Alemanha, pelo Dr. Petr Widimsky. Neste estudo, foi demonstrado que, em pacientes portadores de fibrilação atrial (FA) e doença coronariana e/ou valvar com indicação cirúrgica, a reconstrução atrial de MAZE, quando realizada associada à cirurgia cardíaca, foi capaz de diminuir a incidência de FA sem aumentar a taxa de complicações perioperatórias.
Objetivos: avaliar a eficácia e a segurança da reconstrução de MAZE em diminuir a taxa de FA em pacientes portadores da arritmia e que necessitam de cirurgia cardíaca por doença coronariana ou valvar.
Métodos: O estudo PRAGUE 12 foi um ensaio clínico randomizado que incluiu 224 pacientes portadores de FA (pelo menos 2 episódios de FA documentados nos 6 meses anteriores à randomização) e necessidade de cirurgia cardíaca aberta coronariana ou valvar. Os pacientes foram randomizados para o grupo intervenção, sendo feita a reconstrução atrial de MAZE e a cirurgia proposta, e o grupo controle, no qual a cirurgia cardíaca proposta foi realizada sem a reconstrução de MAZE. O desfecho principal do estudo foi a manutenção do ritmo sinusal após 1 ano de acompanhamento. O desfecho de segurança foi um composto de morte, infarto, AVC e insuficiência renal em 30 dias.
Resultados: Foram incluídos 224 pacientes, com uma média de idade de 70 anos e 43% eram do sexo feminino. A taxa de desfecho primário no grupo intervenção (n=117) foi de 60,2%, enquanto no grupo controle (n=107) foi de 35,5% (p=0,002). A diferença foi significante principalmente nos pacientes que apresentavam FA permanente antes da randomização (53 vs. 14%; p<0,001), mas não foi significativa nos pacientes com FA paroxística (62 vs. 58%; p=1,0).
Em relação aos desfechos de segurança, não houve diferença significativa de eventos adversos perioperatórios após 30 dias entre os grupos MAZE e controle (10,4 vs. 14,7%; p=0,41). Em 1 ano, este desfecho secundário ocorreu em 40,5 no grupo MAZE vs. 40,2% no grupo controle (p = 0,79). Os procedimentos cirúrgicos tiveram em média um atraso de 20 minutos para a reconstrução de MAZE, em relação ao grupo controle (220 vs 200 minutos, respectivamente; p=0,003).
Conclusão: A reconstrução de MAZE reduz a prevalência de FA nos pacientes cirúrgicos e não aumenta o risco do procedimento.
Perspectivas: A ablação cirúrgica de MAZE se mostrou eficaz na redução de FA nos pacientes cirúrgicos, o que já era esperado. No entanto, o efeito maior em os pacientes com FA permanente, que apresentam alterações crônicas dos átrios e maior dificuldade de manter o ritmo sinusal, e a pequena morbidade do procedimento, mesmo com um tempo de cirurgia maior, foram fatos que surpreenderam. O mais importante, no entanto, é conhecer a segurança da retirada dos antiarrítmicos e, principalmente, dos anticoagulantes nesses pacientes, o que o estudo não consegue responder neste momento, pelo seguimento de apenas 1 ano. A avaliação desses pacientes por um seguimento maior, neste caso, é crucial para o melhor entendimento dos benefícios da técnica.
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