Autor: Dra. Mônica Samuel Ávila
Introdução: Foi apresentado no segundo dia do ESC Congress 2012, pela Dra. Eva Lonn, do Canadá, o estudo GRACE, um subestudo do estudo ORIGIN, que teve como objetivo avaliar o efeito da insulina glargina e dos ácidos graxos omega-3 na progressão da aterosclerose, através da medida do espessamento médio-intimal das artérias carótidas.
Métodos: O estudo apresentado hoje foi uma sub-análise do estudo ORIGIN, que avaliou o controle glicêmico com insulina glargina e a suplementação de ácidos graxos ômega-3 (1 grama/dia) na incidência de eventos cardiovasculares em pacientes com diagnóstico de diabetes tipo 2 em face precoce ou intolerância a glicose. Participaram desse estudo 32 centros de 7 países, com um seguimento de 5 anos. O espessamento médio-intimal foi avaliado através de ultrassons de carótidas seriados nesse período. Os critérios de inclusão foram: idade > 50 anos, alteração do metabolismo da glicose, caracterizada por intolerância a glicose ou diabete melito tipo 2, alto risco cardiovascular e possibilidade de mensuração do espesamento médio-intimal. Os pacientes que preencheram esses critérios foram então randomizados para receber insulina glargina ou tratamento padrão com o objetivo do controle glicêmico, e ácidos graxos omega-3 ou placebo. Para a insulina glargina o estudo não foi cego, para os ácidos graxos foi um estudo duplo cego.
Resultados: Foram incluídos 1091 pacientes, com uma média de idade de 63 anos, sendo que 533 foram randomizados para glargina e 558 para tratamento padrão, 539 para Omega 3 e 552 para placebo. Mais de 50% dos pacientes já tinha história prévia de infarto, AVC ou revascularização, 80% com antecedente de hipertensão arterial, 60% com dislipidemia e 10% de tabagistas.
Houve uma diminuição discreta (11%), não significante, do espessamento médio-intimal das carótidas com o tratamento com a insulina glargina no controle glicêmico de pacientes diabéticos e pré-diabéticos em um seguimento de 5 anos.
Não houve diferença estatística no espessamento médio-intimal com a suplementação de ácidos graxos omega-3. A insulina glargina diminuiu de maneira significante a glicemia de jejum, a hemoglobina glicada, os níveis de triglicérides, além de proporcionar um controle glicêmico ‘'ótimo'', enquanto os ácidos graxos não tiveram efeito sobre a glicemia ou lipídeos.
Conclusão e Perspectiva: O estudo concluiu que em pacientes com diabetes tipo 2 ou pré-diabetes , associado a doença cardiovascular estabelecida estável ou com muitos fatores de riscos, a insulina glargina retardou discretamente a progressão da aterosclerose em 5 anos, enquanto os ácidos graxos omega-3 não apresentaram nenhum efeito benéfico nesse grupo de pacientes. Já está bem estabelecido que o controle glicêmico estrito pode ter impacto no aparecimento de doenças cardiovasculares e muitos dos estudos que comprovaram essas hipóteses tiveram um seguimento mais longo, em torno de 10 a 15 anos. Esse foi um dos principais motivos que a autora, em entrevista exclusiva ao Cardiosource em Português, atribuiu a esse efeito modesto e sem significância estatística da insulina glargina. Entretanto, foi muito enfatizado pela Dra. Lonn a comprovação da segurança da insulina glargina em pacientes com doença cardiovascular associada e a importância do controle glicêmico nos pacientes, não somente pelos benefícios cardiovasculares, mas também para o controle das complicações oftalmológicas e renais. Em relação aos ácidos graxos, os estudos continuam neutros e as últimas recomendações são que não existem evidências que justifiquem a suplementação com Omega-3.
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