Introdução - No dia 11 de março de 2011 a costa nordeste do Japão foi atingida por um dos maiores terremotos - 9.0 na escala Richter - da história. O epicentro do terremoto, localizado no Oceano Pacífico, desencadeou um tsunami de enormes proporções que varreu a região, promovendo 15.861 mortes e o desaparecimento de 3.018 pessoas, além da destruição de 388.783 casas (Figura 1). O desastre também forçou a evacuação de 400 mil pessoas da região.
Estudos prévios realizados na Califórnia, EUA e Wenchuan, China demonstram que a incidência de doenças cardíacas costuma se elevar agudamente em resposta a esses grandes desastres naturais. Essa avaliação, entretanto, se restringe ao período curto que se segue ao terremoto. Informações mais tardias, assim como sobre a incidência de outras doenças, são desconhecidas.
Objetivos - Avaliar a incidência de doenças cardiovasculares (insuficiência cardíaca, síndrome coronária aguda, parada cardiorrespiratória e acidente vascular cerebral) e respiratórias (pneumonia) na fase precoce e subaguda que se seguiu ao terremoto ocorrido na região nordeste do Japão.
Métodos - O estudo foi desenvolvido pela prefeitura de Miyagi, região do território japonês mais próxima do epicentro do terremoto e onde seu efeito foi mais sentido. Os investigadores buscaram informações a partir dos registros das ambulâncias da prefeitura de Miyagi obtidos das 12 regiões que compõem a cidade e que cobrem, aproximadamente, 2,3 milhões de pessoas. Foram recuperados os dados no período de 15 semanas que se estendeu de 11 de fevereiro a 30 junho de 2011. O mesmo período dos 3 anos anteriores (2008 a 2010) serviu de referência para a comparação (n = 124.152).
Resultados - O estudo demonstrou que o terremoto na região de Myiagi promoveu um aumento rápido e significativo da incidência de doenças cardiovasculares e pneumonia. O comportamento das complicações cardiovasculares, entretanto, foi diferente entre si. O terremoto desencadeou elevação das taxas de descompensação cardíaca aguda (n = 957) que ainda se mantiveram elevadas por um período de mais de 6 semanas e depois voltaram ao nível basal observado em anos anteriores. A coronariopatia aguda, entretanto, apresentou rápido incremento de sua incidência por 1 ou 2 semanas (n = 206) seguido de reversão dessa tendência cerca de 2 meses depois do desastre quando as taxas de infarto caíram abaixo da média. O comportamento do acidente vascular cerebral foi similar ao observado na parada cardíaca e caracterizado por um pico precoce seguido de outros picos isolados nas semanas seguintes, provavelmente relacionados aos episódios de tremores que se seguem ao terremoto índice. A incidência de novos casos de pneumonia (n = 1.158) apresentou padrão similar ao observado na insuficiência cardíaca com queda lenta ao longo dos 2 meses seguintes.
Conclusões - Os resultados desse estudo demonstram que o estresse psíquico agudo provocado pelo terremoto de 2011 no Japão promoveu aumento global da incidência de doenças cardiovasculares e pneumonia, porém, com comportamento temporal distinto entre si. Essa observação reforça a importância de se atender rápida e eficientemente a população acometida por desastres naturais como o terremoto que atingiu Miyagi.
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