Autor: Dr. Roberto Rocha Giraldez
O risco de complicações cardiovasculares em pacientes submetidos a intervenção coronária percutânea (ICP) com stent que interrompem o uso da terapia antiplaquetária dupla (TAPD) não é completamente conhecido na era contemporânea. Mais ainda, se o contexto associado à cessação da TAPD influencia o prognóstico dos pacientes também é desconhecido. Dados preliminares de registros mais antigos indicam que a interrupção do tratamento antiplaquetário está associada a um rápido incremento dos eventos adversos isquêmicos.
O estudo PARIS (Patterns of Non-Adherence to Anti-Platelet Regimens In Stented Patients) avaliou os principais motivos associados à suspensão da TAPD e o prognóstico cardiovascular relacionado a cada uma dessas condições. O estudo também procurou avaliar o intervalo de tempo associado ao aumento do risco de eventos adversos desde a cessação do tratamento antiplaquetário. PARIS foi um registro observacional prospectivo que incluiu pacientes submetidos a ICP realizadas com sucesso em 15 centros dos EUA e Europa. Os pacientes receberam alta hospitalar em uso de TAPD e foram acompanhados por um tempo médio de 2 anos com visitas ao final de 30 dias, 6 meses, 1 e 2 anos . O motivo para a cessação da TAPD foi classificado em 3 categorias: 1. interrupção por indicação médica; 2. interrupção temporária (até 14 dias) por necessidade cirúrgica; e 3. abandono do tratamento por complicações ou má aderência. A meta primária foi composta de morte cardíaca, trombose de stent provável ou definitiva, infarto do miocárdio, ou revascularização do vaso alvo.
O registro PARIS incluiu 5031 pacientes submetidos a ICP, dos quais 5018 participaram da população final do estudo. Ao final de 2 anos de seguimento, a taxa de interrupção da TAPD foi de 57,3%. A incidência de interrupção do tratamento antiplaquetário por indicação médica, suspensão temporária e rompimento foi de 40,8%, 10,5% e 14,4%, respectivamente. A incidência cumulativa de eventos adversos foi de 11,5% nesse período. Ao final de 1 ano, período recomendado pela diversas diretrizes para a TAPD pós-ICP, a taxa de interrupção médica, suspensão temporária e rompimento do tratamento foi de 11,5%, 4,6% e 9,8%, respectivamente. A incidência de eventos adversos da meta primária foi de 7,4%.
A maior parte dos eventos adversos (74% dos casos) aconteceu em pacientes mantidos em tratamento antiplaquetário. A interrupção do tratamento por indicação médica ou sua suspensão temporária não determinou um aumento na incidência de eventos adversos, mesmo após ajuste estatístico (HRaj 1,41; IC 95% 0,94 - 2,12; p=0,10). Ao contrário, o rompimento do tratamento, seja por uma complicação ou falta de aderência, determinou um aumento significativo das complicações cardíacas (HRaj 1,50; IC 95% 1,14 - 1,97; p=0,004). Nesse grupo, o aumento da taxa de complicações ocorreu, principalmente, nos primeiros 7 dias após a interrupção do tratamento (HRaj 7,04; IC 95% 3,31 - 14,95; p<0,001). A partir daí, houve uma redução progressiva na incidência de eventos adversos: 8 a 30 dias (HRaj 2,17; IC 95% 0,97 - 4,88; p=0,06) e > 31 dias (HRaj 1,30; IC 95% 0,97 - 1,76; p=0,083).
Em conclusão, o estudo PARIS mostrou que o impacto da cessação da TAPD sobre o risco cardíaco depois da ICP é modesto. Esse risco, no entanto, não é uniforme, mas varia substancialmente a depender da forma de suspensão da medicação. No caso de uma interrupção abrupta o risco precoce de eventos adversos é muito elevado. É provável que os resultados encontrados nesses estudo sejam distintos de registros prévios pelos avanços na técnicas hemodinâmicas.
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