Autor: Dr. Humberto Graner
O anticoagulante otamixaban aumentou significativamente o sangramento sem reduzir a mortalidade ou novos infartos em comparação com a terapia atualmente recomendada em pacientes com síndromes coronárias agudas sem supra de ST (SCASSST) com estratégia invasiva precoce programada, de acordo com o estudo TAO.
A estratégia de anticoagulação ideal em pacientes com SCASSST submetidos à intervenção coronária percutânea (ICP) ainda não é totalmente estabelecida. O estudo TAO visou comparar a eficácia e segurança de otamixaban, um inibidor intravenoso do fator Xa, com a heparina não-fracionada (HNF) + eptifibatide. A principal hipótese era que otamixaban seria superior à HNF + eptifibatide na redução de eventos isquêmicos recorrentes nesses pacientes com SCASSST.
A randomização ocorreu em duas fases. Na primeira fase, os pacientes foram randomizados de forma 1:1 para otamixaban (bolus intravenoso de 0,08 mg/kg seguido de infusão de 0,1 mg/kg/h ou 0,14 mg/kg/h) ou HNF + eptifibatide . Na segunda fase (após a análise interina), os pacientes receberam apenas a 0,14 mg/kg/h de infusão de otamixaban. No grupo HNF + eptifibatide, os pacientes receberam HNF (bolus de 60UI/kg ou 4000 UI máximo, seguido de infusão de 12 UI/kg/h) para manter um tempo de tromboplastina parcial ativada em 1,5-2,0 vezes o controle até o final da ICP. No momento da angioplastia, bolus adicionais de HNF poderiam ser administradas caso o tempo de coagulação ativada não estivesse entre 200-250 segundos. O eptifibatide foi administrado como um bolus duplo (180 mcg/kg), seguido por infusão de 2 mcg/kg/min. O desfecho principal do estudo foi o composto de morte e infarto agudo do miocárdio aos 7 e aos 30 dias.
Resultados: Um total de 13.229 pacientes foram randomizados: 1. HNF+eptifibatide (n=5466), 2. otamixaban 0,1mg/kg/h (n=2657) e 3. otamixaban 0,14mg/kg/h (n=5466). As características iniciais eram bastante semelhantes entre os três braços. O escore de risco TIMI foi ≥ 3 em cerca de 70% dos pacientes e quase 88% tinham marcadores de necrose miocárdicas elevados.
O desfecho primário aos 7 dias foi semelhante entre os grupos (Grupo 1=5,7%, Grupo 2=6,3% e Grupo 3=5,5%; p=0,63). Em 30 dias, o desfecho primário foi semelhante entre o grupo de otamixaban alta dose e HNF+eptifibatide (6,9% vs 7,0%, respectivamente). O desfecho de segurança primária por critérios TIMI de sangramento maior ou menor foi significativamente superior no grupo otamixaban alta dose (3,1% vs 1,5 %; OR 2,13; IC 95% 1,63 - 2,78).
Portanto, o otamixaban não reduziu a taxa de eventos isquêmicos em relação à HNF mais eptifibatide e aumentou significativamente o sangramento. Estes resultados não apóiam o uso de otamixaban para pacientes com SCASSST com ICP precoce preservada.
Os resultados do estudo de fase III com otamixaban indicam que este não é superior à HNF + eptifibatide no tratamento de pacientes com ACS submetidos à ICP, além de resultar em maiores sangramentos. Estes resultados são contrários aos resultados de fase II com otamixaban no estudo SEPIA-TIMI 42, no qual reduções em desfechos isquêmicos haviam sido observados. Isso ressalta novamente a importância da fase III de ensaios clínicos randomizados, adequadamente desenhados, para se fazer inferências significativas sobre novos medicamentos e dispositivos.
As diretrizes atuais lista a HNF com ou sem inibidor da glicoproteína IIb/IIIa, bivalirudina, heparina de baixo peso molecular, e fondaparinux como opções aceitáveis para pacientes com SCA submetidos à ICP. Otamixaban é um inibidor anti-Xa (semelhante ao fondaparinux). No entanto, o estudo atual não oferece suporte para sua utilização no manejo desses pacientes. Ao contrário de fondaparinux, nenhum aumento de trombose associada a cateter foi anotado, e as taxas de sangramento foram exageradamente elevadas.
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