Autor: Dr. Bruno Paolino
O Dr. Petr Widimsky, de Praga, República Tcheca, apresentou os resultados do estudo PRAGUE-14, que avaliou o uso do ácido acetilsalicílico (AAS) ou a sua interrupção em portadores de doença cardiovascular submetidos a cirurgias não-cardíacas.
O AAS diminui sabidamente o risco de morte e novo ataque cardíaco em pacientes portadores de doença coronariana prévia. Porém, durante cirurgia não cardíaca, o uso do antiplaquetário aumenta a taxa de sangramentos, aumentando a morbidade do procedimento. Ainda é controversa a melhor estratégia em relação ao AAS durante um procedimento cirúrgico não-cardíaco, tanto em relação a suspensão ou não a medicação quanto sobre qual o melhor momento para esta interrupção.
O estudo PRAGUE-14 foi um estudo observacional que incluiu 1211 pacientes portadores de doença cardiovascular submetidos a cirurgias não-cardíacas de grande porte em hospital terciário universitário tcheco entre 2011 e 2013. Os pacientes tiveram o tratamento com AAS interrompido de acordo com as respectivas equipes assistentes, assim como o momento da retirada da medicação. Foram observadas as taxas de mortalidade, de complicações cardiovasculares e de sangramentos associados ao procedimento cirúrgico.
Dos procedimentos cirúrgicos observados, 5,5% foram neurocirurgias, 10,5% foram urológicas, 39,9% foram ortopédicas e 43,3% foram cirurgias gerais. Mais da metade (62%) foram procedimentos eletivos e 37% foram urgências (1% não-especificadas). O AAS foi retirado em uma mediana de 7 dias antes da cirurgia.
O estudo demonstrou que a taxa de complicações cardiovasculares foi de 7,6% e a de sangramento foi de 13,3%. No entanto, 37,4% dos pacientes que tiveram complicações cardiovasculares morreram, enquanto a mortalidade dos pacientes que sangraram durante o procedimento foi de 1,26%.
O tempo de interrupção do AAS está inversamente associada à taxa de complicações cardiovasculares e a de sangramentos. No entanto, quando os resultados são ajustados, em uma análise multivariada, com outros fatores de risco, como cirurgia de urgência, idade, anestesia geral, história prévia de insuficiência cardíaca e hemoglobinemia, o tempo de interrupção do AAS não foi preditor independente nem das complicações nem dos sangramentos.
O investigador principal defendeu o desenho do estudo, mostrando que este é o que ocorre na prática clínica diária. Os resultados do estudo mostraram que a retirada do AAS não é um complicador dos procedimentos. Pelo contrário, o estudo demonstrou que o risco de sangramento pelo AAS tem uma importância bem menor que o risco de complicações cardiovasculares associadas à ausência da droga. Esses dados seriam utilizados para o desenho de um ensaio clínico randomizado, mas a pequena taxa de desfechos no estudo observacional inviabilizou o estudo prospectivo, devido à enorme amostra necessária.
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