Autor: Dr. Bruno Paolino
O Dr. Piotr Ponikowski, da Universidade de Wroclaw, da Polônia, apresentou no Congresso Europeu de Cardiologia, 2014, em Barcelona, os resultados do estudo CONFIRM-HF. Este estudo demonstrou que, em pacientes com insuficiência cardÃaca (IC) estável e nÃveis baixos de ferritina, a reposição venosa de ferro, quando comparada ao placebo, aumentou a capacidade funcional e a qualidade de vida, além de diminuir a taxa de hospitalização por IC em 1 ano.
A IC é uma das maiores causas de morte em todo o mundo e a deficiência de ferro é uma comorbidade muito frequente, acometendo aproximadamente 50% dos pacientes com a doença. Este perfil de pacientes experimenta uma pior capacidade de exercÃcio, pior qualidade de vida e maior mortalidade, mesmo quando a hemoglobinemia é normal. Por este motivo, o estudo CONFIRM-HF testou a reposição de ferro em pacientes com deficiência do Ãon no contexto da IC estável.
O CONFIRM-HF foi um ensaio clÃnico randomizado, duplo-cego, multicêntrico e controlado que incluiu 304 pacientes com IC sintomática em 41 centros de 9 paÃses europeus. Os pacientes incluÃdos apresentavam sintomas NYHA II/III, redução da função contrátil ao ecocardiograma (FEVE <45%) e deficiência de ferro, demonstrada pela ferritina sérica <100ng/mL ou entre 100 e 300ng/dL, mas com saturação de transferrina <20%. Na inclusão, os pacientes foram submetidos a um teste de caminhada de 6 minutos e aleatoriamente tratados com carboximaltose de ferro ou solução salina por 1 ano. O desfecho primário do estudo foi a melhora do teste de caminhada de 6 minutos. Como desfechos secundários, foram avaliadas a intensidade dos sintomas através da capacidade funcional pela NYHA, a qualidade de vida pelo questionário de cardiopatia de Kansas (KCCQ) e as taxas de mortalidade, mortalidade cardiovascular, hospitalização, hospitalização por causas cardiovasculares e hospitalização por IC.
Os paciente do grupo ferro intravenoso (n=152) receberam uma dose total média de 1500mg de ferro e mais de 75% destes necessitaram de, no máximo, 2 administrações venosas de caboximaltose de ferro para corrigir e manter os nÃveis de ferro dentro dos limites da normalidade. Quando comparados ao grupo placebo, o grupo ferro intravenoso aumentou a distância no teste de caminhada de 6 minutos (Δ33m; IC 95% 16-57m; p<0,001), aumentou a qualidade de vida pelo KCCQ (HR 4,5; IC95% 1,1-7,9; p=0,01) e a capacidade funcional pelo HYHA (p=0,001) e diminuiu a taxa de internações por IC (HR 0,39; IC 95% 019-0,82; p=0,009) em 1 ano. Não houve diferença significativa nas taxas de mortalidade (HR 0,89; IC 95% 0,41-1,93; p=0,77), mortalidade cardiovascular (HR 0,96; IC 95% 0,42-2,16; p=0,91), hospitalização (HR 0,71; IC 95% 0,45-1,12; p=0,14) e hospitalização por causas cardiovasculares (HR 0,63; IC 95% 0,37-1,09; p=0,097).
Portanto, o controle da deficiência de ferro se mostrou benéfica nos pacientes com insuficiência cardÃaca ao diminuir os sintomas e aumentar a qualidade de vida. Os dados apresentados neste estudo são robustos o suficiente para estimular os cardiologistas clÃnicos a pensarem sempre na investigação e o tratamento desta condição nos pacientes com insuficiência cardÃaca, o que nem sempre é feito. Vale ressaltar que grande parte dos pacientes do estudo apresentavam nÃveis normais de hemoglobinemia e que a transfusão de hemácias não se mostrou benéfica para prevenir desfechos nesses pacientes, a menos que as taxas de hemoglobina estejam em nÃveis crÃticos. Desta forma, o estudo CONFIRM-HF reitera a necessidade do olhar atento aos nÃveis de ferro pelos cardiologistas clÃnicos e evoca a realização de novos estudos maiores, desenhados com o intuito de avaliar a reposição de ferro em desfechos clÃnicos relevantes.
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