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SAVE: CPAP para prevenção de eventos cardiovasculares na apneia obstrutiva do sono

Autora: Dr. Glaucylara Reis Geovanini.

O Prof. Doug McEvoy, do Instituto de Saúde do Sono de Adelaide, na Austrália, apresentou, no congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, em Roma, os resultados do estudo SAVE trial (Sleep Apnea cardioVascular Endpoints). O estudo mostrou que, em pacientes portadores de apneia obstrutiva do sono (AOS) moderada e grave com história prévia de doença arterial coronária (DAC) ou doença cerebrovascular, o uso preliminar da pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) não reduziu a incidência de eventos cardiovasculares (CV), mas aumentou significativamente a qualidade de vida e humor, além de diminuir significativamente o ronco e a sonolência excessiva diurna.

A AOS tem sido associada ao aumento do risco de eventos cardiovasculares (CV). No entanto, o impacto do CPAP sobre a prevenção de eventos CV ainda precisa ser definido. A fim de responder a esta pergunta, o estudo SAVE foi um estudo internacional, multicêntrico, de grupos paralelos, randomizado e aberto que incluiu 2.717 adultos entre 45 e 75 anos portadores de AOS moderada a grave e doença arterial coronária (DAC) ou cerebrovascular. Os participantes foram randomizados para tratamento com CPAP mais terapia padrão ou apenas terapia padrão. A maioria dos participantes eram homens. O desfecho composto primário foi o composto de morte por causas cardiovasculares, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral ou ataque isquêmico transitório, hospitalização por angina instável e insuficiência cardíaca. A média de acompanhamento foi de 3,7 anos e a duração média de adesão ao tratamento com CPAP foi 3,3h/noite.

A ocorrência de eventos de desfechos primários foi em 229 participantes no grupo CPAP e em 207 participantes no grupo de terapia padrão apenas (17,0% vs. 15,4%; RR 1,10; IC 95%: 0,91, 1,32; p=0,34). De forma interessante, nos resultados de subgrupo com a pontuação de correspondência (propensity score) na comparação daqueles aderentes ao CPAP contra os com terapia padrão apenas, a taxa de desfecho composto para eventos cerebrais foi 2 vezes maior naqueles com terapia padrão apenas vs grupo aderente ao CPAP e esta diferença mostrou significância estatística (HR 0,52; IC 95% 0,30 - 0.90; p=0,02). Em comparação ao início do acompanhamento, a sonolência diurna excessiva foi reduzida mais intensamente no grupo CPAP, na comparação com grupo terapia padrão (p<0,001), assim como os escores de ansiedade (p=0,002) e depressão (p<0,001).

Em conclusão, o tratamento com CPAP associado a terapia padrão, em comparação com a terapia padrão apenas, não impediu eventos cardiovasculares em pacientes com AOS moderada a grave e doença cardiovascular estabelecida. No entanto, CPAP reduziu significativamente o ronco, a sonolência diurna excessiva e melhorou qualidade de vida e humor. O estudo foi simultaneamente publicado na New England Jornal of Medicine (NEJM 2016 DOI: 10.1056/NEJMoa1606599).

Comentários (Dra. Glaucylara Reis Geovanini): Já que a AOS é prevalente entre pacientes com doenças cardiovasculares (40-60%), além de que o risco de eventos cardiovasculares recorrentes permanence elevado entre estes pacientes, apesar da terapia médica otimizada, o CPAP pode ser adequado na tentativa de reduzir eventos CV futuros. No estudo SAVE, CPAP não resultou em uma menor taxa de desfecho primário na prevenção secundária de pacientes com história de DAC ou doença cerebrovascular e AOS moderada a grave. A principal explicação para os resultados negativos, descrita pelos autores, pode ser a baixa adesão ao CPAP com média de 3,3h/noite, isso significa que os pacientes não devem ter usado o CPAP tempo suficiente para benefícios CV. Outras possíveis razões para os resultados poderiam ser: 1) hipóxia crônica intermitente leva a pré-condicionamento isquêmico com resposta cardioprotetora; 2) mais participantes com AOS moderada do que grave, uma vez que o índice médio de apneia-hipopneia (IAH) foi de 29 eventos/h, portanto, menos participantes puderam mostrar maiores benefícios; 3) pacientes com hipoxemia grave (<80% para> 10% do tempo de gravação) foram excluídos do estudo, então talvez esses participantes pudessem mostrar maiores benefícios CV com o tratamento com CPAP. Portanto, mais estudos são necessários para esta dúvida sobre maior adesão ao CPAP e benefícios CV futuros.

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