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NorStents: Efeitos de longo prazo dos stents recobertos de nova geração vs. stents metálicos contemporâneos
Prof. Dr. Roberto Rocha Giraldez
O estudo mais importante do congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia 2016 sob a perspectiva de sua relevância clínica e publicado simultaneamente no New England Journal of Medicine foi apresentado pelo Prof. Kaare Harald Bønaa da Universidade de Ciência e Tecnologia na Noruega. O ensaio clínico NorStent demonstrou que a nova geração de stents farmacológicos não apresentou grandes vantagens em relação aos stents metálicos contemporâneos.
A Sociedade Europeia de Cardiologia declara em suas diretrizes mais recentes publicadas em 2014 que "em relação aos stents metálicos e stents recobertos de primeira geração, a nova geração de stents farmacológicos foi capaz de melhorar os desfechos de morte, infarto do miocárdio e trombose de stent". Os estudos que suportam essa declaração, no entanto, são pouco robustos e não utilizaram a nova geração de stents metálicos como comparador. O estudo NorStent foi desenvolvido para comparar os stent farmacológicos de segunda geração com everolimus e zotarolimus aos stents metálicos contemporâneos de estrutura mais avançada. O desfecho primário do estudo foi morte ou infarto do miocárdio. Diversos desfechos secundários, incluindo necessidade de revascularização, trombose de stent e qualidade de vida (QoL) foram também avaliados.
O ensaio clínico NorStent incluiu 9.013 pacientes do mundo real (70,9% com doença arterial aguda) submetidos a implante de stent, caracterizando o maior estudo randomizado na área. O seu desenvolvimento foi independente, ou seja, não contou com nenhum financiamento da indústria. O seguimento médio foi de 5 anos. O uso de stents farmacológicos de segunda geração não mostrou superioridade em relação aos stent metálicos modernos para o desfecho primário (HR 0,98; IC95% 0,88-1,09; P=0,66). A mortalidade também não diferiu entre os grupos (HR 1,10; IC95% 0,94-1,29; P=0,22). Como esperado, a necessidade de revascularização foi maior no grupo não-farmacológico ao final de 6 anos (19,8% vs. 16,5%; HR 0,76; IC95% 0,69-0,85: P<0,001; NNT =30). O uso de stents recobertos também promoveu uma redução marginal das tromboses de stent (0,8% vs. 1,2%; HR 0,64; IC95% 0,41-1,00; P=0,0498). Os índices de qualidade de vida não diferiram entre os grupos.
Em conclusão, as vantagens do uso de stents recobertos de última geração em relação aos stents metálico contemporâneos foi menor do que a esperada, ou seja, pacientes tratados com stents farmacológicos não mostraram redução da sua mortalidade, da taxa de infartos ou qualidade de vida. Os autores concluíram que "pacientes tratados com stents recobertos não vivem mais nem melhor que os pacientes tratados com stent metálico" e que "embora as diretrizes da Sociedade Europeia de Cardiologia recomendem os stents recobertos para a revascularização miocárdica, essa recomendação deve mudar a partir dos resultados do estudo NorStent".